Os sindicatos, os movimentos sociais e os partidos
comprometidos com o bem-estar dos trabalhadores devem assumir imediatamente
esse desafio, sob pena de retrocesso social.
Frente à ofensiva dos três poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário) e do mercado (produtivo e financeiro) sobre os direitos
(trabalhistas e previdenciários) dos trabalhadores do setor público e da
iniciativa privada, com fortes campanhas na mídia (impressa, radiofônica e
televisão, inclusive na internet), é fundamental que o movimento sindical
invista na formação de quadros para fazer frente a essa realidade adversa.
A despolitização presente na sociedade, alimentada pela
imprensa e reproduzida de forma acrítica nas redes sociais, se não for
enfrentada à altura, com contrapontos qualificados e bem fundamentados, além de
prejudicar o cidadão em suas variadas dimensões (eleitor, trabalhador,
contribuinte, usuário de serviço público, etc), irá fortalecer as teses
governamentais e de mercado, que priorizam a competição, a produtividade e o
lucro em detrimento do salário.
O debate, em face do processo de impeachment, ficou interditado.
Muita gente que apoiou o afastamento da ex-presidente — por assimetria de
informação ou por indignação com os rumos que o governo vinha tomando — mesmo
não concordando com a agenda do governo Michel Temer, como as reformas
trabalhista e previdenciária, não consegue dialogar e somar forças no
enfrentamento à agenda do governo com as forças que foram contrárias ao
impeachment. É preciso restabelecer o diálogo e a aliança, sob pena de todos
perderem nesse processo.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo no
jornal o Globo de 5/02/16, reconhece que “adotar políticas que favoreçam mais o
capital do que o trabalho, ou vice-versa, depende da orientação político do
governo”. E o atual governo claramente fez a opção pelo capital, ao congelar,
em termos reais os gastos públicos não-financeiros, e ao propor as reformas
previdenciária e trabalhista, ambos com supressão de direitos dos segurados e
trabalhadores, públicos e privados.
Com a correlação de forças existente no governo e no
Parlamento, e com a clareza de há déficit de quadros para fazer esse
enfrentamento, se o movimento sindical não fizer um investimento massivo em
formação, conscientizando a classe trabalhadora de seus direitos, dificilmente
terá condições de travar essa batalha com êxito, e correrá sério risco ou a
ameaça concreta de redução ou mesmo extinção de direitos.
A formação sindical, nesse contexto, passou a ser
indispensável para atrair novos militantes, constituir novas lideranças,
resgatar a consciência política, reforçar valores cívicos e éticos e,
principalmente, para dar continuidade à luta em defesa dos direitos e
interesses dos trabalhadores, servidores e aposentados e pensionistas.
Para contribuir com esse processo de enfrentamento a essa
investida em bases neoliberais sobre os direitos dos assalariados, o DIAP vai
relançar neste mês de fevereiro de 2017, em edição atualizada e ampliada, a
cartilha “Para que serve e o que faz o movimento sindical”, uma ferramenta
fundamental para ajudar na formação de novos quadros sindicais.
Nesse ambiente de intolerância e individualismo exacerbado —
em que os fatos, a verdade e valores como solidariedade tem ficado em segundo
plano — é urgente resgatar o sentido de solidariedade, de tolerância, de
consciência política e cidadã, da unidade de ação de todos os que desejam e
lutam por um mundo melhor, independentemente de terem divergido no processo de
impeachment. E isso só será possível com informação, qualificação e
conscientização, portanto, com formação política. Os sindicatos, os movimentos
sociais e os partidos comprometidos com o bem-estar dos trabalhadores devem
assumir imediatamente esse desafio, sob pena de retrocesso social. Mãos à obra.
(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação
do Diap
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