segunda-feira, 20 de junho de 2016
Precarização x consolidação?
Rene Carvalho
Opinar a partir de leituras da imprensa e mídia alternativa sem fontes diretas de informação pode levar a erros. Mas para muitos de nós não há alternativas, vou correr o risco. O que mais me chamou a atenção na leitura dos jornais hoje foi a proposta de uma das lideranças do governo provisório em palestra junto a empresários.
Precarização do trabalho em troca da consolidação da gestão Temer. Tipo: se as investigações sobre corrupção forem enquadradas teremos melhores condições para votar na Câmara a pauta do empresariado.
A proposta até faz sentido: é uma troca que interessa aos dois. Foi a base da “ponte para o futuro”. Mas não se pode desconhecer que estamos vivendo uma forte crise política e institucional e que é apenas a partir dela que podemos pensar nas evoluções políticas. E já que é de política que se está falando, uma característica muito particular da ofensiva golpista é que suas principais pontas de lança, não tem um projeto político. Os paranaenses até tinham um quando começaram sua ação: derrubar Dilma e colocar Aécio no poder. Mas a evolução da crise ultrapassou essa possibilidade. Aécio é hoje uma carta fora do baralho. Sobrou derrubar Dilma, mas sem a menor ideia do que colocar em seu lugar.
Seguro que não era o PMDB. Além da absoluta falta de sintonia política, há a questão central: a ação política da lava a jato partiu das investigações sobre corrupção na Petrobrás para a derrubada de Dilma e do PT. Vem pegando muito mal que o resultado de sua ação seja um governo de corruptos. A força política dos lavajatos baseou-se na extrapolação das investigações contra a corrupção. Acho que estão até abertos a arranjos políticos, mas não a voltar para casa sem ganhos expressivos. E aí está um problema: o que eles querem? Ora, eles não têm projeto político hoje: talvez sonhem com assumir o governo. Enquanto isso não se precisa, sua ação continuará ampliando a crise política e institucional.
E temos a PGR que herda hoje pouco a pouco o poder da lava a jato. A continuidade das investigações tende a passar para suas mãos: a maioria dos políticos tem foro privilegiado. A PGR terá de agora em diante um papel político cada vez maior. Mas não creio tampouco que tenham um projeto político mais efetivo. Punir a corrupção nos altos escalões do sistema político? Penso que, diferentemente da lava a jato, querem escapar da pecha de seletividade política, de dois pesos/duas medidas, embora sua participação no esquema das escutas ilegais de Dilma e Lula e da nomeação de Lula para a Casa Civil tenha sido extremamente vergonhosa.
A crise institucional, caracterizada pela ação política autônoma de policiais federais, juízes e promotores só poderá ser debelada a partir de um executivo eleito por larga maioria pela população. E ainda assim não será fácil. O STF que poderia em tese ser um agente central da reorganização institucional perdeu sua capacidade de ação, ao não coibir as infrações cometidas pela lava a jato e ao deixar evoluir sua ofensiva política – claramente anticonstitucional contra o governo Dilma. Alguns de seus membros assumiram papel de destaque na coordenação golpista. Outros primaram pelos preconceitos e predomínio de suas opções políticas. A Instituição como um todo não soube, não quis, não pode agir contra a crise institucional. E agora tornou-se parte dela.
Posso estar muito enganado: acordos podem ser feitos para impedir a volta de Dilma e a convocação de eleições gerais. A crise pode ultrapassar agosto e se estender no tempo. Os protestos populares contra o desmonte das instituições e políticas sociais podem consolidar momentaneamente os grupos golpistas. Mas ficaria surpreso se o governo Temer se prolongasse no tempo.
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