quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Qual é a melhor mãe do mundo?



Cláudia Trevisan

Envoltos em uma disputa de âmbito global por influência econômica, política e militar, Estados Unidos e China embarcaram involuntariamente em uma nova corrida: qual das duas culturas produz as melhores mães do mundo? A polêmica começou na semana passada nas páginas do Wall Street Journal, que publicou artigo da americana de origem chinesa Amy Chua, no qual ela critica a indulgência de pais ocidentais e defende um estilo militar de educação, no qual os filhos são sujeitos a uma férrea disciplina e privados de qualquer possibilidade de escolha.

Professora de Direito da Universidade de Yale, Amy cita sua própria experiência na educação de duas filhas para sustentar que as chinesas são as melhores mães do mundo.

No texto publicado pelo WSJ, ela apresenta uma lista do que suas adolescentes são terminantemente proibidas de fazer, o que inclui: assistir TV e jogar no computador, tirar notas inferiores a A, não ser a primeira aluna em qualquer disciplina além de teatro e ginástica, tocar outro instrumento que não violino e piano, não tocar piano e violino, namorar e participar de peças teatrais na escola.

O estilo chinês apresentado por Amy é implacável e provocou imediata reação de mães “ocidentais”. A receita completa está no seu livro Battle Hymn of the Tiger Mother (Hino de Batalha da Mãe Tigre), no qual afirma que os pais chineses fazem coisas que seriam inimagináveis e até legalmente questionável para os ocidentais. “As mães chinesas podem dizer para suas filhas, ‘ei gorda, emagreça’”, exemplifica.

“Mesmo quando os pais ocidentais acreditam que estão sendo estritos, eles não chegam nem perto das mães chinesas. Meus amigos ocidentais que se consideram severos fazem seus filhos praticar com instrumentos musicais 30 minutos todos os dias. Uma hora no máximo. Para uma mãe chinesa, a primeira hora é a mais fácil. As horas dois e três são as mais difíceis”, sustenta Amy.

A boa educação é medida pelo sucesso dos filhos e este não depende de talento, aptidão ou inspiração, mas de disciplina, trabalho árduo e repetição, repetição, repetição, conseguida muitas vezes com insultos, ameaças e comportamento abusivo.

“Para ser bom em qualquer coisa, você tem que trabalhar e as crianças nunca querem trabalhar por vontade própria e é por isso que é crucial passar por cima de suas preferências”, aconselha Amy. Segundo ela, a disciplina é a razão pela qual os pais chineses produzem tantos “azes da matemática e prodígios musicais”.

Apesar de controvertida, a receita encontrou aceitação entre os leitores. Em pesquisa online do WSJ, cujos resultados podem ser vistos aqui, 63% dos que votaram disseram que o estilo severo de educação oriental é melhor para os filhos, enquanto 34% optaram pela permissividade ocidental.

Em meio à disputa geopolítica que envolve os dois países, a questão do estilo de educação acabou ecoando o temor de muitos norte-americanos diante da ascensão chinesa. “A questão básica não é se nós amamos ou não os nossos filhos mesmo se eles não sejam estudantes honrados, mas se nós os amamos o bastante para dedicar tempo e esforços para encorajá-los a serem os melhores que puderem, o que fará com que sua nação seja a melhor que puder nesse mundo altamente competitivo”, escreveu o leitor Jack Alfred.

Não há dúvida de que os pais chineses gastam parcela muito maior de seu tempo do que os ocidentais para acompanhar os estudos dos filhos e supervisioná-los na realização das inúmeras tarefas de casa. Esse provavelmente foi um dos fatores que contribuíram para o fato de estudantes de Xangai terem ficado em primeiro lugar no Pisa, o exame internacional que avaliou alunos de segundo grau de 65 países em provas de leitura, ciências e matemática, cujos resultados foram divulgados em dezembro. Os chineses ficaram à frente dos países ricos, enquanto o Brasil amargou a 53ª posição.

Estadão

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