No domingo, o JB publicou uma entrevista, feita pelo repórter Caio de Menezes, com o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Uma coisa que ele disse me chamou a atenção. Mais que isso, me chocou:
"No estado, são 25 mil detentos nos presídios, o que representa 1.200 acima do limite. Nesses locais, uns dois ou três presos dormem em colchões no chão. Mas, na carceragem da Polinter de Neves, em São Gonçalo (região metropolitana do Rio) são 700 presos onde cabem 150 pessoas. Lá, falta água potável, luz natural e até ar. Não há, sequer, espaço para deitar nas celas. A situação de Neves, a mais grave do Rio, fere diversos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário."
Falta água potável, luz e até ar.
Negamos até oxigênio aos presos. E a imprensa aqui ainda polemizando sobre a prisão de Guantanamo!
Não importa que crime uma pessoa cometeu, o estado não pode se igualar a ela em selvageria. Por mais cruel que seu ato tenha sido, o criminoso merece um tratamento com mínimas condições de humanidade, embora os adeptos da pena de morte achem que gastamos até demais com esses pobres coitados.
Outra coisa: a maioria dos presos nas delegacias e presídios não cometeu nenhuma atrocidade. Mais da metade está presa por vender drogas. E num país onde a propaganda de bebida alcoólica é livre na TV a qualquer hora do dia, por que é tão hediondo vender entorpecentes proibidos por lei?
Algum dirigente de cervejaria ou de fabricante de bebida destilada já foi para a cadeia porque o produto que vende leva milhões à ruína?
O crak desgraça famílias? Concordo.
Mas agora mesmo quando vinha para o jornal vi pelo menos três adultos com a cara na sarjeta por causa de uma simples garrafinha de Caninha da Roça.
Voltando às cadeias, quando trabalhei em Brasília, cobrindo a Assembleia Nacional Constituinte, em 1988-89, vi um deputado paulista, coincidência ou não aliado de Fernando Collor e Paulo Maluf, gastar seu tempo na tribuna da Câmara lendo o cardápio servido aos presos do estado de São Paulo. No final, ele disse que era um absurdo nós, trabalhadores, pagarmos aquela comida. Na certa, queria que deixássemos todos morrerem de fome.
Num país onde as pessoas não têm igualdade de oportunidades, atirar sete pedras em quem comete um crime é muito cômodo.
Amontoar essas pessoas desumanamente em cubículos e depois dizer que são irrecuperáveis é uma insanidade que apenas mostra como estamos no caminho errado.
E, agora no Natal, todo mundo vai se penitenciar durante a farta ceia por não perdoar o próximo. Pena que o com o porre que tomarão no Réveillon vão esquecer e passar mais um ano inteiro imersos no egoísmo e na insensibilidade.
Com vocês, a carceragem da Delegacia de Neves, em São Gonçalo, no Estado do Rio:
Enviado por: Migliaccio
Jornal do Brasil
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