A “pesquisa qualitativa” realizada pela Folha com uma amostra dos potenciais eleitores de Lula é uma lição de política dada aos comentaristas do “pragmatismo puro” que dizem que, não indicando de imediato alguém que vá ser o seu candidato nas eleições de outubro, o PT está perdendo seus espaços políticos.
Ao contrário, se o fizesse, aí é que os estaria perdendo.
Vejam o que acontece, por exemplo, no PSDB. Fingir que “não tem nada com isso” diante da situação de Aécio Neves e fingir que “vida que segue” depois que seu candidato presidencial e, até ontem, símbolo do tucanato está metido numa situação meramente pessoal, quando se vêem expostos os esquemas de sua campanha em 2014 – afinal, a de todos os tucanos – rendeu o quê a Geraldo Alckmin?
Só encolher-se, como fez em 2006 com as privatizações de Fernando Henrique Cardoso, o que lhe valeu fazer minguarem os votos do primeiro para o segundo turno. Algo de que, de memória, não se tem registro de que haja ocorrido em eleições de duas voltas.
No texto, Ana Paula Balloussier faz um resumo precioso do que pensam, que merece ser lido com muita atenção, mesmo que a “amostra” não inclua os eleitores do Nordeste, região na qual Lula merece ainda mais o simbolismo do líder insubstituível.
Veja o sumo do que dizem:
1- Lula é visto como o político que mais fez pelos pobres e minorias no país; seus programas sociais são exaltados pelos eleitores
2- O petista é, segundo eles, a resposta para o crescimento do fascismo no país, representado na figura de Bolsonaro, mas também em Alckmin, considerado maior adversário de Lula na disputa
3- O endurecimento do discurso de Lula é, para os eleitores, uma sinalização de que, se eleito, o petista não fará novamente um pacto político com as elites
4- As denúncias contra o ex-presidente são minimizadas como sendo um pequeno descuido comparado aos milhões atribuídos a outros políticos
5- O discurso de que a Lava Jato, Justiça e a mídia perseguem Lula foram inflados com a sua prisão. Para os eleitores, o sentimento de injustiça deu novo fôlego à pressão para que o petista possa ser eleito
6- A guerra de discursos na internet também reacendeu a defesa da candidatura do ex-presidente e tirou o foco da autocrítica, apontam os eleitores
7- Seus admiradores negam que o PT deva adotar um plano B. Para eles, a candidatura deve ser mantida mesmo com Lula preso e com poucas chances de estar nas urnas em outubro
8- Admitir outro nome para disputar o pleito seria aceitar a condenação de Lula e colocar outro petista na mira de uma perseguição político-judicial, afirmam os eleitores.
Não é um programa para a ação, é sua condição essencial, porém, para que esta seja efetiva: perceber onde está a compreensão do eleitor, ir até lá e, a partir dela, construir caminhos.
Achar que eles serão descobertos com análises frias, pragmáticas ou, ao contrário, com arroubos passionais é errar à direita e à esquerda.
O processo social é um rio que corre a velocidades variáveis: pode ralentar-se em meandros ou acelerar-se em corredeiras. Quem faz da política o instrumento das vontades e sonhos coletivos precisa andar em sua velocidade, ou ficará à margem, no seco.
Inclusive de votos.
Altamiro Borges
Nenhum comentário:
Postar um comentário