quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
A inclusão social como eixo da campanha de 2018
Para melhor explicitar, a esquerda precisa ser clara no sentido de: 1) renovação ética, em razão dos escândalos revelados pela Lava Jato; 2) estabilidade fiscal, por força do desequilíbrio das contas públicas; e 3) inclusão social e retomada do crescimento, em função da exclusão decorrente do desemprego e do congelamento do gasto público.
Antônio Augusto de Queiroz*
Nas sete últimas eleições presidenciais três temas sempre estiveram presentes nas campanhas: 1) estabilidade macroeconômica, 2) inclusão social e 3) combate à corrupção.
Em todas essas eleições ganhou o candidato — comprometido com esses eixos — que conseguiu transmitir esperança e confiança ao eleitor. Esperança de que a vida das pessoas mudaria para melhor, com emprego e renda e oportunidade de ascensão social. E confiança de que o candidato e sua equipe seriam capazes de transformar o programa em realidade.
ANO DA ELEIÇÃO EIXOS DE CAMPANHA
1989 Renovação ética (combate à corrupção) e inclusão social
1994 Estabilidade econômica (Plano Real)
1998 Continuidade da estabilidade
2002 Combate à miséria e inclusão social
2006 Prosperidade econômica e ascensão social
2010 Consolidação das conquistas sociais
2014 Sustentabilidade econômica e social
Fonte: DIAP
Os que, após FHC, insistiram em privilegiar a estabilidade macroeconômica sobre a inclusão social, mesmo com o discurso de combate à corrupção, não conseguiram lograr êxito, exatamente porque a função do Estado, para a maioria da população, é combater desigualdades e criar condições para que as pessoas ascendam socialmente.
Nesta eleição de 2018, entretanto, as forças de mercado acham que podem ganhar o pleito apenas com uma narrativa liberal e fiscal, acompanhada de um discurso conservador em relação aos valores. Ledo engano, especialmente se as forças de esquerda, democráticas, progressistas e populares souberem explorar os eixos corretos e denunciar o desmonte em curso.
O discurso de “realismo fiscal”, sem qualquer calibragem sobre quem será sacrificado, a precarização do trabalho, a desregulamentação do bem-estar social e o desmonte do aparelho de Estado na prestação dos serviços públicos, patrocinado pelo atual governo e pelas candidaturas de “centro”, não sensibilizam nem convencem o eleitor médio, que será o principal prejudicado.
A esquerda, ao contrário, deve se unir em torno de um programa que sinalize para o restabelecimento dos direitos, da defesa do Estado como prestador de serviços e fornecedor de bens e renda para os mais necessitados, além de regulador das relações entre as pessoas e entre estas e as instituições para coibir abusos e excessos, inclusive os praticados pelo mercado.
Nessa perspectiva, é preciso defender um ideário que ao mesmo tempo garanta equidade na relação entre patrões e empregados, desequilibrados pela Reforma Trabalhista, e assegure os serviços e programas sociais do Estado, indispensáveis para garantir dignidade e oportunidades aos mais vulneráveis.
Apesar das dificuldades, os partidos de esquerda dispõem de boas estruturas partidárias, contam com tempo de TV razoável, têm militantes, exercem influências nas redes sociais e seus programas coincidem com os interesses e aspirações da maioria do povo.
Neste pleito de 2018, devem sintetizar seus eixos de campanha em três condições indispensáveis à confiança nos agentes públicos, à capacidade das instituições de prestar serviços públicos e à criação de emprego e renda: renovação ética, estabilidade fiscal e inclusão social.
Para melhor explicitar, a esquerda precisa ser clara no sentido de: 1) renovação ética, em razão dos escândalos revelados pela Lava Jato; 2) estabilidade fiscal, por força do desequilíbrio das contas públicas; e 3) inclusão social e retomada do crescimento, em função da exclusão decorrente do desemprego e do congelamento do gasto público.
O mesmo raciocínio vale para o Congresso Nacional. Nas últimas quatro eleições gerais houve financiamento empresarial de campanha e não havia ameaça a direitos dos eleitores e por isso os candidatos não precisavam assumir compromissos com o eleitor, já que poderiam usar de propaganda e terceirizar a captação de votos, nem o eleitor precisava ter medo do seu voto, já que não havia ameaça a seus direitos, independentemente de votar em “a”, “b” ou “c”.
Nesta eleição, entretanto, essas duas condições desaparecerão e o candidato à reeleição ficará vulnerável: não terá dinheiro do financiamento empresarial e terá que convencer o eleitor de que irá defender seus direitos, além de demonstrar que durante o atual mandato não votou contra o interesse de seu representado. Quem apoiou o congelamento do gasto público, votou a favor do impeachment da presidente Dilma e absolveu o governo Temer nas duas denúncias de corrupção, além ter aprovado a Reforma Trabalhista, a terceirização generalizada e ter defendido a reforma previdenciária nos termos apresentados pelo governo, não terá como fazê-lo.
Esse será o cenário das eleições de outubro. A nova realidade será esta: ou se respeita a vontade do eleitor ou não terá chance de eleição ou reeleição, no caso dos que estão no exercício do mandato.
(*) Jornalista, analista e consultor político e diretor de Documentação do Diap. Texto publicado originalmente na revista eletrônica “Teoria & Debate”.
Diap
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