No alto da noite do Rio de Janeiro, luminoso, generoso, o Cristo Redentor estende os braços.
Debaixo desses braços os netos dos escravos encontram amparo.
Uma mulher descalça olha o Cristo, lá de baixo, e apontando seu fulgor, diz, muito tristemente:
Uma mulher descalça olha o Cristo, lá de baixo, e apontando seu fulgor, diz, muito tristemente:
- Daqui a pouco, já não estará mais aí. Ouvi dizer que vão tirar Ele daí.
Não se preocupe - tranquiliza uma vizinha. - Não se preocupe: Ele volta.
A Polícia mata muitos, e mais ainda mata a economia. Na cidade violenta soam tiros e também tambores: os atabaques, ansiosos de consolo e de vingança, chamam os deuses africanos. Cristo sozinho não basta.
Não se preocupe - tranquiliza uma vizinha. - Não se preocupe: Ele volta.
A Polícia mata muitos, e mais ainda mata a economia. Na cidade violenta soam tiros e também tambores: os atabaques, ansiosos de consolo e de vingança, chamam os deuses africanos. Cristo sozinho não basta.
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O Livro dos Abraços
Eduardo Galeano
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