segunda-feira, 7 de agosto de 2017

“Agosto”: de Rubem Fonseca

“Agosto”: O livro de Rubem Fonseca é obrigatório entre as melhores obras policiais do mundo 

“Agosto” (Companhia das Letras) é uma história que navega entre o tema histórico e a trama policial, e a participação de figuras importantes do Brasil de uma época que será lembrada para sempre em nossos livros didáticos traz à baila uma discussão: o que pequenas ações de algumas pessoas podem interferir no futuro de uma nação.

Mas a obra é mais do que isso: ela nos leva a um suspense extremo, a uma voracidade lançada a cada página que é digerida por nossos olhos e pensamento, uma motivação crescente de terminarmos sua leitura o mais rápido possível para descobrir seus pontos centrais.

A violência que há naqueles dias de Brasil não e tão diferente daquela enfrentada hoje. O clima é hostil e a infinita guerra travada através de jogos políticos tem reflexão iminente na base dos mais pobres também. Rubem Fonseca, espertamente, sabe como demonstrar isso por meio de sua verve literária.


Essa percepção do leitor se torna maior ao saber que os personagens criados sob uma verossimilhança sagaz se entendem bem com a técnica narrativa e a linguagem utilizada pelo autor. Fonseca utiliza seu protagonista para narrar uma história que ele mesmo tem de investigar. Temos um Sherlock Holmes brasileiro sem a polidez inglesa, mas com a astúcia tupiniquim.



E ele sabe flutuar entre os usos e costumes da vida carioca dos anos 50 sem que isso fique diminuto para o leitor dos anos 2000 ou de quem o lerá daqui a duzentos anos. É pura perspicácia!


O livro se desenrola por conta dos eventos que culminaram na morte de Getúlio Vargas em 1954, mas são os meandros desse caso que criam os maiores suspiros de suspense durante a obra.



Em simultaneidade aos fatos reais da crise que levaria Getúlio ao suicídio, reação esta a tudo que cercou a tentativa de assassinato de Carlos Lacerda, o autor desenvolve a história paralela e ficcional por meio do comissário Alberto Matos, designado para investigar o caso do atentado e, que leva consigo a pressão de solucionar a questão em meio à crise institucional que toma conta do país e empurra Vargas contra a parede.



Estamos diante de um enredo fascinante que se vale das diferentes versões contadas até hoje do que aconteceu de fato, caso semelhante ao assassinato de JFK, em Dallas, anos mais tarde.



Temos a figura dos já mencionados Getúlio e Lacerda, o irmão do presidente, Benjamin, a irmã Alzira, além do próprio Gregório Matos, mandante do atentado ao jornalista carioca.



Conforme o comissário Matos se aprofunda na análise do atentado um outro crime acontece na alta sociedade carioca. Já estamos falando da parte inventada do livro que ajuda a contar a parte verídica. Um milionário é assassinado em sua residência no Rio de Janeiro.



Dessa maneira, tais crimes rivalizam a atenção de Mattos, que divide com o leitor a dor de uma úlcera no estômago, que só é minorada com altas doses de pepsamar (antigo comprimido que tratava dores estomacais).



Além disso, o detetive tem envolvimentos amorosos mal resolvidos com duas mulheres. Isso auxilia no clima tenso do thriller.



Os conflitos que são gerados pelo atentado a Lacerda são retratados enquanto as investigações de Matos são atrapalhadas. Há interesses políticos, militares, jornalísticos e outras coisas mais escusas. Cabe ao investigador não cair nas armadilhas postas em seu caminho e ainda ficar em pé para chegar ao final ileso, mesmo que isso seja difícil de acreditar depois de tudo o que ele vai descobrindo ao longo do tempo.


Um livro que não deixa a tensão cair em nenhum momento e que não ilude o leitor com soluções fáceis para os problemas criados em suas páginas.


Muito da história de nosso país se explica ali e mais das características dos políticos dessa nação podem ser visualizadas para que não se ache que isso é exclusividade do presente.


Leitura obrigatória e imprescindível para quem gosta dos dois estilos: policial e histórico.



https://dhiancarlomiranda.wordpress.com/2014/05/26/agosto-o-livro-de-rubem-fonseca-e-livro-obrigatorio-entre-as-melhores-obras-policiais-do-mundo/




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