quinta-feira, 17 de junho de 2010

Planejamento urbano: essencial para a saúde pública





A urbanização é um processo praticamente irreversível em todo o mundo. Cada vez mais as pessoas estão saindo da zona rural para irem viver nas cidades, onde vão se formar grandes aglomerados humanos. Os motivos desse êxodo do campo para a cidade sãos os mais variados possíveis, mas o que mais se destaca é a busca de melhores condições de vida. O processo de urbanização não foi algo pensado e, geralmente, ainda não o é. Muitas cidades, que nasceram em torno de um pequeno comércio, não foram planejadas para se tornarem uma grande metrópole, mas isso aconteceu em inúmeras delas de forma descontrolada e desorganizada. Apenas de alguns anos para cá, começou-se perceber os gigantescos problemas que a falta de planejamento urbano trouxe e a necessidade urgente de se fazer algo, pois as consequências estão sendo grandes e poderão ser desastrosas.

Atenta ao problema do acelerado processo de urbanização e às consequências à saúde das pessoas, a Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 07 de abril desse ano, dia Mundial da Saúde, chamou-nos a atenção para a questão do planejamento urbano, pois ele é essencial para a saúde. Nesse dia, a OMS lançou o apelo: "Planejamento urbano: essencial para a saúde pública", título que demos para esse nosso pequeno artigo. O assentamento urbano tem um impacto direto na saúde das pessoas que vivem nas cidades. Precisamos tomar consciência que o planejamento urbano é fundamental para a construção de um mundo saudável no século 21. Esse apelo da OMS quer chamar a atenção das autoridades públicas e políticas, os habitantes das cidades e de todos aqueles que se dedicam a defender e promover uma vida mais saudável, para voltarem os seus olhares para as desigualdades no quesito saúde existente nas cidades e a importância de se tomar uma atitude para melhorar a saúde e vida dos mais pobres, que são, sem dúvida, os primeiros a sofrerem com a urbanização.

A OMS apresenta alguns dados sobre a velocidade da urbanização. Há trinta anos, 04 entre 10 pessoas viviam nas cidades. Estima-se que em 2050 esse número crescerá de 07 para cada 10 pessoas. Um processo muito rápido que afeta toda a maneira de viver e de lidar com o mundo. Já sentimos mudanças significativas nos nosso padrão e estilo de vida, no nosso comportamento social e de atenção com a saúde.

A busca pela vida nas cidades tem sido cada vez maior. A Dra. Margaret Chan, diretora-geral da OMS, disse: "em geral as populações urbanas estão melhores que as populações rurais. Elas tendem a ter mais acesso a serviços sociais e de saúde, sua expectativa de vida é mais longa. Mas cidades podem também ter ameaças a saúde de forma concentrada, tal como inadequado saneamento básico e coleta de lixo, poluição, alto índice de acidentes de trânsito nas ruas e rodovias, surtos de doenças infecciosas e um estilo de vida não saudável." Essa concentração de riscos à saúde e a qualidade de vida presentes nas cidades tornam a saúde urbana um problema de saúde pública, que exige um planejamento urbano capaz de atender melhor o processo de urbanização e um ataque direto para que se evite o aumento de doenças de ambientes de riscos à saúde.

Na urbanização não planejada há uma tríplice ameaça à saúde da população, de acordo com a OMS: a proliferação de doenças contagiosas que espalham rapidamente em meio as aglomerados humanos; maior risco de doenças crônicas não-transmissíveis como diabetes e doenças do coração e o aumento de estilo de vida não saudável, no qual inclui uso de tabacos, alimentação não saudável, sedentarismo, uso prejudicial de álcool e o castigo que a saúde urbana sofre devido aos acidentes de trânsitos, a catástrofes, a violência e o crime.

Nesse contexto problemático da urbanização desenfreada e não planejada, a OMS propõe ações criativas para melhorar a saúde e a vida das populações urbanas. Ela propõe cinco ações criativas para proporcionar melhora nas condições de saúde das pessoas nas cidades:

1. Promover o planejamento urbano para comportamentos saudáveis e de segurança;
2. Melhorar as condições da vida urbana;
3. Assegurar uma gestão participativa;
4. Construir cidades que são acessíveis e compatíveis às necessidades dos cidadãos de todas as idades;
5. Fazer com que as cidades sejam resilientes a desastres e a emergências.

Esse conjunto de ações criativas propostas pela OMS é apenas uma pequena amostra do que se pode fazer para favorecer a saúde urbana. Elas precisam ser adaptadas de acordo com cada realidade. Por mais que a urbanização e as consequentes ameaças à saúde dos habitantes das cidades sejam um fenômeno global, há particularidades em cada localidade, o que exigem ações contextualizadas. O diretor-geral assistente da OMS, Dr. Ala Alawan, disse que para ter ações efetivas nessa problemática da saúde urbana são necessárias atitudes politicamente coordenadas e ações por meio de múltiplas áreas, como o meio ambiente, o transporte, a educação, a recreação, o lazer e o planejamento da urbanização. "Nós estamos em um momento crítico na história, no qual nós podemos fazer a diferença", diz Dr. Alawan, manifestando o seu otimismo e compromisso.

A saúde urbana é um grande desafio aos homens nesse século. Precisa-se ater melhor a esse problema e tomar atitudes para promoção de uma vida mais saudável. Grandes metrópoles possuem grande desigualdade social; se por um lado geram muita riqueza econômica, por outro, essa riqueza está nas mãos de poucos e gera muita pobreza. Se há um maior conforto e segurança no encontrar meios para cuidar da saúde, há também muita injustiça, pois apenas os que estão nos bairros ricos encontram essa segurança, enquanto os pobres ficam nas periferias e favelas entregues à própria sorte. Essa injustiça e desigualdade é uma característica presente na urbanização no nosso país e um desafio para a Pastoral da Saúde.

Todos os agentes ligados à Pastoral da Saúde precisam estar atentos a essa questão da saúde urbana e o planejamento urbano como essencial para a saúde pública, como a OMS chama a atenção. É necessário estudar e conhecer melhor a realidade das cidades brasileiras e da sua população para poder pensar em ações pastorais e sociais em vista da saúde da população urbana. A OMS no dia Mundial da Saúde apenas chamou a atenção para a essa problemática, mas promete para o segundo semestre um relatório detalhado sobre a saúde urbana no mundo. Enquanto isso é preciso começar a refletir sobre o que fazer para melhorar a saúde das populações urbanas. Claro que esse não é o único problema para a saúde do povo, mas é um problema que merece uma atenção de forma mais organizada, pois ainda não se sabe lidar com os desafios da urbanização.

Alexandre Andrade Martins

Adital

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