Só o imponderável salva a esquerda e os movimentos do vergonhoso silêncio do dia de hoje
A situação política no Brasil é tão esdruxula que a votação do afastamento de Michel Temer, flagrado no mínimo prevaricando naquele áudio com Joesley da JBS e que tem no máximo 5% de aprovação popular, deve ser realizada num clima de missa de cidade pequena do interior. Não vamos ter bateção de panela, manifestação de rua, ocupação de Brasília e nem grandes ações de rede.
O que nos levou a essa situação é a pergunta de muitos. Alguns respondem culpando o PT e seus governos por não terem organizado os trabalhadores e os setores que foram favorecidos pelas políticas sociais desenvolvidas nos 13 anos de Lula e Dilma. Outros culpam os coxinhas e os golpistas, que seriam os patos. Alguns enxergam a burocratização dos movimentos como entrave para liderar a resistência. E há ainda aqueles que consideram que muitos setores da centro-esquerda e esquerda veem no desgaste de Temer e sua permanência o melhor cenário para uma disputa em 2018.
Todas essas hipóteses devem ser consideradas na busca de explicações para entender o que levou o país ao silêncio sepulcral num dia tão importante como o de hoje. Afinal, não foram poucas as vezes que lideranças políticas e de movimentos sociais disseram que iriam botar fogo no país se Dilma fosse derrubada.
O que parece levar a essa sensação de morbidez política da esquerda é a sua falta de projeto futuro. É não ter exatamente o que apontar pra frente.
A população enxerga o governo Temer como uma tragédia, mas não consegue olhar com esperança nada do que lhe é apresentado pelos grupos políticos que se apresentam. E até por isso o único que tem colhido ampliação de apoio popular e melhora nas intenções de votos nas pesquisas nos últimos levantamentos é Jair Bolsonaro. Que tem um discurso claro, o de que vai botar ordem no país. Mesmo que seja necessário pra isso baixar o porrete.
Evidente que não é disso que se trata. Mas é assim que o povo o entende.
Em relação a Lula, o que se vê é uma tentativa desesperada por se defender. Uma tentativa mais do que legítima. Mas que boa parte da população percebe como um problema a ser resolvido. Na linha, mas se o Lula ganhar será que vão deixá-lo governar? Isso entre aqueles que ainda o admiram, porque uma parte da base popular do ex-presidente no Sul e no Sudeste do país já migrou para o outro lado.
Sem um projeto de futuro, não se conseguirá fazer o combate do presente. Essa é sinuca de bico dos dias de hoje para a centro-esquerda e a esquerda.
Isso não significa que uma convulsão social não possa brotar no meio disso tudo como uma flor no deserto. Até porque essa paz de cemitério costuma ser enganosa. De repente um estalo ressuscita todos os mortos e se instaura um processo que pode mudar o rumo das coisas.
E essa hipótese não deve ser desconsiderada. Pelo contrário, em tempos de redes digitais e com essa imensa crise econômica e social que não para de aumentar, sua probabilidade cresce muito. E isso pode levar a esquerda a achar um novo rumo.
O imponderável é o que resta. Nas palavras de Nelson Rodrigues, o Imponderável Futebol Clube. Mas apesar de parecer pouco, pode ser suficiente.
Revista Fórum
O que nos levou a essa situação é a pergunta de muitos. Alguns respondem culpando o PT e seus governos por não terem organizado os trabalhadores e os setores que foram favorecidos pelas políticas sociais desenvolvidas nos 13 anos de Lula e Dilma. Outros culpam os coxinhas e os golpistas, que seriam os patos. Alguns enxergam a burocratização dos movimentos como entrave para liderar a resistência. E há ainda aqueles que consideram que muitos setores da centro-esquerda e esquerda veem no desgaste de Temer e sua permanência o melhor cenário para uma disputa em 2018.
Todas essas hipóteses devem ser consideradas na busca de explicações para entender o que levou o país ao silêncio sepulcral num dia tão importante como o de hoje. Afinal, não foram poucas as vezes que lideranças políticas e de movimentos sociais disseram que iriam botar fogo no país se Dilma fosse derrubada.
O que parece levar a essa sensação de morbidez política da esquerda é a sua falta de projeto futuro. É não ter exatamente o que apontar pra frente.
A população enxerga o governo Temer como uma tragédia, mas não consegue olhar com esperança nada do que lhe é apresentado pelos grupos políticos que se apresentam. E até por isso o único que tem colhido ampliação de apoio popular e melhora nas intenções de votos nas pesquisas nos últimos levantamentos é Jair Bolsonaro. Que tem um discurso claro, o de que vai botar ordem no país. Mesmo que seja necessário pra isso baixar o porrete.
Evidente que não é disso que se trata. Mas é assim que o povo o entende.
Em relação a Lula, o que se vê é uma tentativa desesperada por se defender. Uma tentativa mais do que legítima. Mas que boa parte da população percebe como um problema a ser resolvido. Na linha, mas se o Lula ganhar será que vão deixá-lo governar? Isso entre aqueles que ainda o admiram, porque uma parte da base popular do ex-presidente no Sul e no Sudeste do país já migrou para o outro lado.
Sem um projeto de futuro, não se conseguirá fazer o combate do presente. Essa é sinuca de bico dos dias de hoje para a centro-esquerda e a esquerda.
Isso não significa que uma convulsão social não possa brotar no meio disso tudo como uma flor no deserto. Até porque essa paz de cemitério costuma ser enganosa. De repente um estalo ressuscita todos os mortos e se instaura um processo que pode mudar o rumo das coisas.
E essa hipótese não deve ser desconsiderada. Pelo contrário, em tempos de redes digitais e com essa imensa crise econômica e social que não para de aumentar, sua probabilidade cresce muito. E isso pode levar a esquerda a achar um novo rumo.
O imponderável é o que resta. Nas palavras de Nelson Rodrigues, o Imponderável Futebol Clube. Mas apesar de parecer pouco, pode ser suficiente.
Revista Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário