Osvaldo Bertolino
A Central Brasileira de Notícia (CBN), nome oficial da rede de rádio do Grupo Globo (antiga Organizações Globo), é, sem dúvida, o braço mais agressivo da mídia brasileira. A começar pelo seu alcance, com emissoras espalhadas por todo o território nacional. Depois porque ela condensa em sua programação, instantaneamente, toda a sujeira que a direita produz. Uma torpeza levantada por algum veículo da mídia é imediatamente amplificada, ampliada e recheada pelos apresentadores, repórteres e comentaristas da rede.
As demais redes de rádio, como a Bandeirantes e a Jovem Pan, fazem o mesmo, mas a CBN ganha a parada por ter em sua programação figuras com superexposição na televisão, mais estrutura e capilaridade. Os comentários azedos e maldosos da Miriam Leitão, do Arnaldo Jabor, do Carlos Alberto Sardenberg, do Alexandre Garcia na tela da TV e no jornal do grupo, o “O Globo”, ganham maiores dimensões na rede de rádio com a força da repetição e dos recheios. Muitas vezes eles repetem, no rádio, uma simples nota de algum veículo que rende uma eternidade de comentários e uma profusão de adjetivos. Muitas vezes são pura fanfarronadas. Na verdade, são todos porcos do mesmo chiqueiro.
Um exemplo recente foi a “notícia” de que falta pasta de dente na Venezuela, publicada na última quinta-feira (28) no site de humor venezuelano “Un Mundo Triangular” - que cria notícias falsas em tom de brincadeira, como o “Sensacionalista” no Brasil -, atribuindo a informação à ministra da Saúde, Luisana Melo, que justificara a escassez do produto com o fato de os cidadãos escovarem os dentes três vezes ao dia. O UOL publicou a “notícia” como verdade, depois recuou, o que não impediu Sardenberg de comentar o assunto como verdade várias vezes durante seu programa na CBN.
Assuntos tolos e insignificantes
A estratégia do “Grupo Globo” é bem pensada; a CBN espalha detalhes do noticiário que o telespectador viu na TV em flashes rápidos ou que o leitor passou a vista nos jornais e na internet. O Brasil é, relativamente à sua população, um dos países que possui o maior número de meios de comunicação de massa. Mas o telespectador, ouvinte ou leitor inteligente que se dedica a prestar atenção no noticiário por no máximo dez minutos logo vê que está diante de um mundo de calamidades que nada tem a ver com a realidade. Trava-se, na mídia, uma espécie de campeonato para saber qual veículo consagra maior número de assuntos tolos e insignificantes, todos embrulhados em espetacular hipocrisia e cobertos de ignomínias.
A mídia brasileira sempre foi golpista e reacionária, mas antigamente vez ou outra encontrava-se algo que prestasse. Hoje, por mais rigoroso que seja o garimpo, procurar algo de útil no seu noticiário é um exercício extenuante. Rui Barbosa, comentando a partida do presidente da República Hermes da Fonseca com seu séquito do Rio de Janeiro para São Paulo no coraçado “Minas Gerais” em um de seus artigos magistrais, disse que no tempo de Cabral e de Tomé de Souza “os navios eram de pau e os homens de ferro” e que naqueles dias “os navios eram de ferro e os homens de pau”. Da mídia brasileira pode-se dizer, mais ou menos, o mesmo: as máquinas antigas eram pobres, mas divulgavam algumas ideias ricas; hoje, as máquinas são ricas, mas divulgam somente ideias pobres.
Altamiro Borges
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