sexta-feira, 13 de março de 2015

Uma Blitz da Lei Seca ou Retrato da Cultura Policial de Abuso de Poder e Prepotência


Ivana Bentes com Felipe Altenfelder e João Paulo Mehl

A Cultura da Polícia! "Temos que nos proteger". A Cultura policialesca e a onda conservadora de ódio e assujeitamento que assola o país é assustadora. Em Curitiba fomos abordados pelo carro da Lei Seca, saindo de um jantar de confraternização depois do debate entusiasmado sobre Estado, Cultura e Cidadania em Curitiba a convite da Frente Acorda Cultura, em um teatro lotado e empolgado que recebeu o Circuito Cultura Viva em Curitiba.

A abordagem foi desprositadamente violenta. Dois policiais desceram do carro empunhando armas em nossa direção. Me colocaram de lado e pediram para os dois amigos, que participaram do debate, saírem com as mãos para cima! Começou a dura, com o policial dando soquinhos nos calcanhares para que abrissem as pernas sempre mais, quase ao ponto de desequilibrarem e caírem.

A voz de comando era odiosa e desnecessária e sempre ríspida e intimidadora. O senhor está nos tratando como criminosos, comecei. Qual o objetivo da abordagem? Álcool respondeu o policial enquanto apalpava pernas, braços, órgãos sexuais em busca de armas! Isso é um abuso não precisa de arma e nem revista. Nunca vi isso em nenhuma Lei Seca pelo Brasil. “Aqui em Curitiba é assim. Se quiser pode pegar minha identificação e me notificar” e ostentou seu nome na minha cara, com a segurança do procedimento de praxe.

Nem vi nada, não fotografei e nem li o nome dos policiais. É simplesmente revoltante o que fazem e sabemos como seria se fossemos negros em ruas mal iluminadas e longe dos olhos de todos. Humilham ainda mais, achacam, matam!

Tinha feito uma fala no debate sobre mudarmos o Estado por fora e por dentro, mas a cultura policial não vai mudar de dentro, precisa de um fora que a quebre e rache na sua estrutura perversa. Trata-se de uma boçalidade consentida por nós e contra nós e que bateu no teto faz tempo.

Somos reféns da policia! O Estado não controla esses "homens da lei " e seus códigos de conduta e vingança regressivos! Quando perguntei porque estavam usando armas contra dois cidadãos brasileiros em uma operação da Lei Seca o policial respondeu: “temos que nos proteger!” O Estado se protege dos seus cidadãos dando dura na rua sem motivo, humilhando e matando na guerra contra os pobres.

Essa é a base e reflexo da cultura do ódio, base do conservadorismo, da tortura, do que tudo de pior se produziu nesse país. Esse Estado produz capatazes, feitores, perseguidores e assassinos de negros, de gays, de mulheres, de pobres, de cidadãos.

Essa onda conservadora que assola o país, esse golpismo dos ricos, essa emergência da TFP com jovens homofóbicos, racistas, famílias normativas que ensinam a odiar a diferença, essa politica traduzida em xingamentos e panelaços pelas janelas de uma classe média e elite medrosa e cheia de rancor é o oposto de tudo o que construímos e lutamos.

Esse Brasil autofágico e boçal não passará! A mídia paneleira, a policia violentadora de direitos, o golpismo estúpido, a TFP retardatária nos grupos de whatsup fazem parte de um mundo com data de validade vencida.

Eu disputo um outro Brasil! Da cultura contra o ódio, da ruidocracia e da polifonia, das diferenças e das redes contra a destruição real e simbólica de um país que vi emergir.

Não me chamem para bater panelas da Casa Grande, não sou cúmplice dessa indignação moralizadora (“classe média sofre!”) que esvazia e descafeina o campo da política. Quem odeia a politica e/ou os políticos será comandado pelos que gostam dela. Será comandando por um Estado e uma polícia que “se protege” de nós.

A contra-reforma conservadora em curso hoje une essa policia boçal com todos os outros tipos de conservadorismo: politico e de comportamento, engrossa o dualismo e as polarizações. Esse Brasil lacerdista que mostra sua cara.

Daqui da Islândia da Cultura faremos o bom combate contra a caretice e o conservadorismo.

P.S. A operação foi monitorada por dois policiais armados e intimidadores, uma mulher policial e dois carros de policia. Um mini exército para se proteger contra a alegria, a amizade e o estar juntos!


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