"Posso falar até pelo MST: creio que houve uma perda de força política e social no último período.
E o mesmo tem ocorrido nos movimentos urbanos, sindicais, estudantis, o que não
é particularidade brasileira, mas uma realidade mundial".
Gilmar Mauro, do MST.
Os EUA não conseguem, mediante ineficazes medidas do governo Obama, equacionar os efeitos desastrosamente movediços na economia da mais poderosa nação do planeta. Japão e Tigres Asiáticos vêem-se igualmente encurralados ante o rompimento iminente de diques do capitalismo. Até Cuba se submete a promover "equilíbrio no orçamento do governo" com um milhão de demissões e abertura ao capital privado, suscitando disse-me-disse sobre o fim do socialismo na ilha. A concentração de super-riqueza sem fronteiras e as ameaças de guerras atômicas, uma vez mais, abalam a humanidade.
A crise econômica mundial em pleno curso, que afeta, sobremaneira, a Europa e empurra os países da zona do euro a promoverem "ajustes" nas contas públicas, também acirra as organizações do povo a reações múltiplas. Grécia, Portugal, Espanha, Itália... Estão todos na faixa de atenção permanente das análises econômicas. E quando o Sistema exige subtrair direitos sociais como "remédio" para conter "a onda de quebradeira", as nações desenvolvidas, habituadas a lutas e manifestações nas ruas, dão o recado. A tendência é de pioramento da crise crônica; mas as organizações de classe dão sinais de resistência pululante, enfrentando a repressão oficial de governos das elites predatórias.
Não é o que aconteceria no Brasil, cujo campo de "negociações" entre Trabalho e Capital, há muito tempo, estaria sendo verticalmente preparado pelo governo Lula. Para tanto, fez o "dever de casa", no básico do governo de FHC, engordando os banqueiros e socorrendo as empresas com créditos e redução emergencial de impostos, pela manutenção de subempregos e do sindicalismo pelego. Dedicando-se com afinco ao agronegócio; mesmo que do desmatamento infrene, da monocultura e da toxicidade à plantação e ao solo. E para conter a grita popular, mantém o modelo populista das políticas de compensação, sem contribuição das grandes fortunas. Tudo isto, sustentado por suas pútridas alianças políticas. Além de coagir setores da imprensa com "controle da informação" pelo Estado. E não tenham dúvidas, os ingênuos de CPFs, que PT, PSDB e legendas do comensalismo partidário da direita, intermediado por Aécio Neves, unir-se-ão para o "bem da governabilidade nacional", relevando "as diferenças", as acusações mútuas de desmando e corrupção, e achincalhe do Ficha Limpa.
Diante de todo o caótico quadro de economia globalizada, por que o Brasil, que não tem auto-sustentabilidade, estaria imune à crise? O que dizem os números atuais e as projeções do PIB nas entrelinhas de Guido Mantega? Ao lançar-se ao controle majoritário das ações da Petrobrás, o governo não admite o recurso ‘técnico’ como medida contra a crise? E o recente alerta do FMI de vulnerabilidade das finanças brasileiras? Por que doravante o patronato "reserva-se" ceder à pauta econômica dos trabalhadores, se obtiveram lucros exorbitantes no período questionado? O que os ‘entreguistas’ do discurso dissimulado têm mais a oferecer para atrair o capital especulador? Garantia da ‘ordem social’ e de passividade dos explorados?
Pelo próximo governo, sem um mito no Palácio do Planalto, "inatingível" e de "prestígio internacional", sem a prática do diálogo, é pouco provável que as mesmas figuras vassalas do poder dominante abortem o surgimento de autênticas representações do povo. Ora, é sob sacrifício insuportável à força do trabalho e do ‘cacete democrático’ contra manifestações populares que a esquerda se expande. E como a palavra de ordem é limitar em mil hectares a propriedade da terra (então plausível meta para reaver a Reforma Agrária e rever a crescente urbe-senzala), o MST terá que inovar suas históricas táticas de luta; nem que se obrigue a extirpar o bicho-de-pé de suas estruturas, a hibernar boa parte de suas lideranças nacionais (que tenham a grandeza de espírito crítico, afastando-se), as quais ficaram reféns do compadrismo petista e perderam a capacidade de mobilização politizada das bases. As quais se desgastaram ao tratar com eufemismo ("Esse governo...", quando deveriam firmar-se: "O governo Lula.") o falsário da Reforma Agrária.
Assim, o que se espera da retomada das lutas é reação à altura dos desafios a partir de 2011, a despeito de criminalização pelos reacionários. Ou as simples ocupações, à mercê dos burocratas do INCRA e da vontade política do governo, incorrerão em mais atraso e mau conceito do uso social da terra, no velho lamento do cantador popular.
Medito a coragem, a determinação e autocrítica de Gilmar Mauro!
Julio Cesar de Castro
Correio da cidadania
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