Uma quadra de crescente desgaste do golpe, mas que requer muitos cuidados.
Deixar ao sabor das oscilações do mercado preços estratégicos da economia – como o do petróleo – é criminoso. A aplicação dessa política tornou, entretanto absolutamente evidente o domínio do rentismo na economia e onde está nos levando.
A paralisação do transporte em poucos dias é também a imagem da degradação em curso da soberania nacional, da economia e das condições de vida da população.
O processo em curso mostrou mais uma vez que Temer só tem dois compromissos: sua patota e o rentismo internacionalmente subordinado. É por isso que a greve e locaute dos caminhoneiros acelerou tão fortemente o tempo político. O que se discute hoje, na verdade, é se esse morto vivo ainda se segura até outubro.
Ao analisarmos os próximos momentos, é importante ter em conta que a falência do governo golpista se conjuga à falta de candidato eleitoralmente viável de defesa do golpe. Mas há um paradoxo a perceber: eleitoralmente enfraquecidas as forças do golpe continuam dominando as instituições públicas não eleitas. A face política do golpe – Temer - perdeu qualquer apoio popular e parece ter levado com ele os candidatos do golpe. Mas o mesmo não ocorre com o sistema judiciário e investigativo embora seus expoentes tenham começado a perder apoio na população. Sua capacidade de intervenção ainda está inteira.
Por isso, o momento exige muita clareza tática. Eleições sem Lula não são, como sabemos, efetivamente democráticas. Mas a maioria da população – mesmo os que apoiam Lula – vê essas eleições como a forma de dar fim ao golpe. E há efetivamente, pelo que se vê hoje, a possibilidade de uma derrota eleitoral dos políticos que sustentam o golpe. É claro que uma vitória progressista nas eleições presidenciais enfraquece o golpe, mas não o derrote. E se for expressiva, permitirá enfrentar as dificuldades da posse e de governar em melhores condições num sistema institucional dirigido ainda por golpistas e sem maioria parlamentar,
Nesse contexto, mercado, mídia, a direita e o centro direita, começam a ver as eleições com maus olhos. Cresce o risco de buscarem seu “adiamento”, digamos. Ao mesmo tempo, Temer e seu governo perderam qualquer sustentação. O que coloca claramente a possibilidade de sua substituição antes de outubro. Até muitos deputados golpistas acalentam a possibilidade de “demitir” Temer, e apresentar-se com roupa nova à população.
Como pensar os próximos quatro meses? A situação política pode evoluir rapidamente, e diferentes possibilidades podem se apresentar. A saída de Temer pode dar lugar a um novo presidente indireto e à “necessidade” de “por a casa em ordem” antes de novas eleições. O principal risco para os golpistas é que o “substituto” não tenha, tampouco, o controle da situação. É possível assim que busquem o pretexto de “restabelecer a ordem” e procurem passar o controle da situação aos militares. Embora estes, até o momento, não parecem querer segurar essa batata quente. Tanto “ações subversivas” como o combate à corrupção do MDB podem, entretanto servir de pretexto.
Tirarem além de Lula o Bolsonaro das eleições via TSE, também é uma possibilidade. Mas acho que o PJ correria grandes riscos com essa decisão. Mesmo que ela seja tomada e mantida, penso que a possibilidade de apoiadores do golpe terem sucesso eleitoral me parece, mesmo com todas essas manobras, ao menos agora, algo difícil. A não ser é claro, que uma enorme provocação seja montada. No momento, Lula, mesmo que não possa concorrer, e Ciro parecem se fortalecer com as evoluções em curso.
Uma evolução mais favorável para a democracia pode se apresentar, se a greve-locaute dos caminhoneiros tiver um efeito tipo luta contra o aumento das tarifas, como em junho de 2013. A combinação de amplas manifestações com a falência eleitoral da direita pode talvez colocar o domínio golpista sobre as instituições públicas na defensiva e as eleições se tornarem mais democráticas. Mas é apenas uma possibilidade.
Mas continuo pensando que junto ao crescimento da insatisfação popular e o fortalecimento da oposição é essencial dar grande ênfase às bandeiras democráticas.
Mexer com o que aí está só se for em direção a mais democracia.
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