Diretor da Fundação Konrad Adenauer diz que, após três anos, Lava Jato não gerou mudança na política brasileira. Em parte, segundo ele, devido à aceitação por parte da sociedade de que regras e leis sejam violadas.
Quase três anos após seu início, a Operação Lava Jato ainda não conseguiu gerar uma mudança de comportamento dos políticos e partidos brasileiros, afirma o jurista alemão Jan Woischnik, diretor da Fundação Konrad Adenauer no Brasil.
Em entrevista à DW, Woischnik diz que a cultura da corrupção está presente no cotidiano e que, num panorama assim, "onde todo o tempo as regras e leis são violadas", fica difícil mudar o sistema.
DW Brasil: A Lava Jato está mudando o comportamento dos partidos e políticos brasileiros?
Jan Woischnik: Na realidade, eu não vejo muita mudança. Os políticos estão tendo um comportamento muito defensivo frente às acusações que surgem com as investigações da Lava Jato, e não estão usando a crise como uma chance para impulsionar mudanças e discutir o problema da corrupção dentro de seus partidos. Eles estão tentando escapar do escândalo ou evitar as investigações, quer dizer, estão tentando sobreviver à turbulência. Eles estão quase todos no "survival mode" e não no "reform mode": cada um está pensando em si mesmo. A desconfiança da população, que já era grande, aumentou. E a única maneira de revertê-la seria assumir as consequências da crise e mostrar ativamente a vontade de reformar o sistema político.
DW: Por que os partidos não aproveitam a Lava Jato para realizar uma limpeza em seus quadros?
JW: Infelizmente, é um sistema tido como muito normal, que funciona há muito tempo e que faz parte do jogo. Portanto, é muito difícil mudá-lo. O político que não participa desse sistema corrupto não terá dinheiro para financiar sua campanha na próxima eleição e, consequentemente, não será eleito. Portanto, ninguém quer começar a mudar esse sistema. Os partidos têm associações de jovens, com membros com cerca de 20 a 30 anos. Muitas vezes, eles têm vontade de mudar o sistema, mas, por serem dependentes dos caciques, fica muito difícil alterar esse sistema tão velho e considerado normal. Não há um movimento de renovação política nos partidos e nenhum esforço significativo para evitar tais escândalos no futuro, embora esses sinais fossem necessários para a população brasileira. Parece que falta também um sentimento de culpa nos políticos envolvidos no escândalo.
DW: Por que a Lava Jato ainda não resultou no surgimento de um novo movimento político e de novos líderes no país?
JW: De fato, isso é muito estranho e atípico. Normalmente, se partidos tradicionais têm problemas graves, a exemplo da corrupção que está sendo investigada no país, surgiriam novos movimentos políticos ou, ao menos, novos líderes nos partidos tradicionais. Mas, infelizmente, isso não está acontecendo no Brasil. À medida que a democracia é corrompida, somado à falta de novos líderes em partidos tradicionais, cria-se um terreno fértil para candidatos populistas que poderão se aproveitar da crise. Eu vejo um risco, e as maiores legendas deveriam tentar evitar a ascensão de populistas de outras legendas fazendo a renovação de seus quadros políticos.
DW: E como você enxerga o fato de o juiz Sergio Moro ser elevado a herói por parte da população brasileira?
JW: Por um lado, é compreensível que a população busque sempre líderes e pessoas responsáveis para dirigir seu país. Já que os políticos não estão cumprindo esse papel, é normal que o povo procure alguém como o juiz Sergio Moro. Mas, por outro lado, não deveria ser o papel do juiz ser herói, afinal, essa não é sua função. Ele deveria trabalhar sem muita publicidade e dar as sentenças mais justas possíveis. Por isso, digo que é compreensível, mas não deveria ser assim.
DW: A sociedade brasileira é um espelho da corrupção no cenário político?
JW: Eu posso dizer que no Brasil existe uma certa cultura da corrupção no cotidiano, seja em relação a poucas somas de dinheiro, alguém que fura um semáforo vermelho e suborna um policial... São atos considerados muito normais no país. Mas, em um clima assim, onde todo o tempo as regras e leis são violadas e está "bom" para todos, é muito difícil mudar o sistema. E outro detalhe: socialmente, não é bem visto criticar a ação de outra pessoa – como exemplo, cito furar a fila do supermercado, ato que na Alemanha é criticado abertamente pelos outros clientes e, aqui no Brasil, geralmente não há reclamação. Em situações importantes, como a corrupção na política, temos que nos comportar seriamente, até porque elas afetam a vida em sociedade.
Quase três anos após seu início, a Operação Lava Jato ainda não conseguiu gerar uma mudança de comportamento dos políticos e partidos brasileiros, afirma o jurista alemão Jan Woischnik, diretor da Fundação Konrad Adenauer no Brasil.
Em entrevista à DW, Woischnik diz que a cultura da corrupção está presente no cotidiano e que, num panorama assim, "onde todo o tempo as regras e leis são violadas", fica difícil mudar o sistema.
DW Brasil: A Lava Jato está mudando o comportamento dos partidos e políticos brasileiros?
Jan Woischnik: Na realidade, eu não vejo muita mudança. Os políticos estão tendo um comportamento muito defensivo frente às acusações que surgem com as investigações da Lava Jato, e não estão usando a crise como uma chance para impulsionar mudanças e discutir o problema da corrupção dentro de seus partidos. Eles estão tentando escapar do escândalo ou evitar as investigações, quer dizer, estão tentando sobreviver à turbulência. Eles estão quase todos no "survival mode" e não no "reform mode": cada um está pensando em si mesmo. A desconfiança da população, que já era grande, aumentou. E a única maneira de revertê-la seria assumir as consequências da crise e mostrar ativamente a vontade de reformar o sistema político.
DW: Por que os partidos não aproveitam a Lava Jato para realizar uma limpeza em seus quadros?
JW: Infelizmente, é um sistema tido como muito normal, que funciona há muito tempo e que faz parte do jogo. Portanto, é muito difícil mudá-lo. O político que não participa desse sistema corrupto não terá dinheiro para financiar sua campanha na próxima eleição e, consequentemente, não será eleito. Portanto, ninguém quer começar a mudar esse sistema. Os partidos têm associações de jovens, com membros com cerca de 20 a 30 anos. Muitas vezes, eles têm vontade de mudar o sistema, mas, por serem dependentes dos caciques, fica muito difícil alterar esse sistema tão velho e considerado normal. Não há um movimento de renovação política nos partidos e nenhum esforço significativo para evitar tais escândalos no futuro, embora esses sinais fossem necessários para a população brasileira. Parece que falta também um sentimento de culpa nos políticos envolvidos no escândalo.
DW: Por que a Lava Jato ainda não resultou no surgimento de um novo movimento político e de novos líderes no país?
JW: De fato, isso é muito estranho e atípico. Normalmente, se partidos tradicionais têm problemas graves, a exemplo da corrupção que está sendo investigada no país, surgiriam novos movimentos políticos ou, ao menos, novos líderes nos partidos tradicionais. Mas, infelizmente, isso não está acontecendo no Brasil. À medida que a democracia é corrompida, somado à falta de novos líderes em partidos tradicionais, cria-se um terreno fértil para candidatos populistas que poderão se aproveitar da crise. Eu vejo um risco, e as maiores legendas deveriam tentar evitar a ascensão de populistas de outras legendas fazendo a renovação de seus quadros políticos.
DW: E como você enxerga o fato de o juiz Sergio Moro ser elevado a herói por parte da população brasileira?
JW: Por um lado, é compreensível que a população busque sempre líderes e pessoas responsáveis para dirigir seu país. Já que os políticos não estão cumprindo esse papel, é normal que o povo procure alguém como o juiz Sergio Moro. Mas, por outro lado, não deveria ser o papel do juiz ser herói, afinal, essa não é sua função. Ele deveria trabalhar sem muita publicidade e dar as sentenças mais justas possíveis. Por isso, digo que é compreensível, mas não deveria ser assim.
DW: A sociedade brasileira é um espelho da corrupção no cenário político?
JW: Eu posso dizer que no Brasil existe uma certa cultura da corrupção no cotidiano, seja em relação a poucas somas de dinheiro, alguém que fura um semáforo vermelho e suborna um policial... São atos considerados muito normais no país. Mas, em um clima assim, onde todo o tempo as regras e leis são violadas e está "bom" para todos, é muito difícil mudar o sistema. E outro detalhe: socialmente, não é bem visto criticar a ação de outra pessoa – como exemplo, cito furar a fila do supermercado, ato que na Alemanha é criticado abertamente pelos outros clientes e, aqui no Brasil, geralmente não há reclamação. Em situações importantes, como a corrupção na política, temos que nos comportar seriamente, até porque elas afetam a vida em sociedade.
DW
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