quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Palmas para o PT
Tadeu Porto
[Clap, clap, clap]
A esquerda nacional, na qual orgulhosamente me incluo, não tem espaços para errar. É cobrada e vigiada a cada passo que dá. A difícil disputa que travamos contra a desigualdade social não admite hipocrisia. As falas devem ser bem consoantes com as ações.
Quem é da minha geração, vai concordar que somos como o Homem Aranha com o tio Ben prestes a nos dizer, pela milésima vez, que “com grandes poderes vem grandes responsabilida2des”. Por isso, é natural que a cobrança sobre partidos e movimentos sociais que representam a esquerda sejam tão grandes.
Nessas últimas semanas assistimos, por exemplo, uma imensa exigência sobre o Partido dos Trabalhadores, tanto da mídia tradicional quanto de seus próprios militantes, por uma posição coerente sobre as eleições para as presidências das duas casas do Parlamento. Nesse caso, coerência é, obviamente, não apoiar candidaturas golpistas, por mais prejuízo que a derrota por completo possa trazer.
Esse cabo de força pragmático, acabou proporcionando algo que há tempos não se via numa disputa interna corporis do legislativo: o peso da militância – leia-se povo – fazendo a diferença numa eleição inteiramente decidida pelo voto de representantes.Em outras palavras, a militância do PT trouxe um alento de democracia direta para Brasília, uma cidade que hoje parece estar encarcerada por um escudo de representantes que isolam o povo das principais decisões do país.
Consideramos, por exemplo, os dez maiores blocos/partidos da câmara, responsáveis por mais de 80% dos deputados e deputadas. Ninguém liga para como vão votar PP/PTB/PSC, PMDB/PEN, PSDB, PR, PSD, PSB, DEM ou PRB (ninguém mesmo, podem procurar a vontade). Pode ter candidato amigo de Eduardo Cunha ou na lista da Odebrecht, não vai existir imprensa procurando decisões coerentes ou a “militância” fazendo uma campanha para tentar ditar os rumos dos partidos.
Pensem só: quem o PSDB vai apoiar para a presidência da câmara? ou mesmo o PMDB? Pouco importa para a população se os tucanos vão torcer para o Botafogo ou se os pmdbistas estão rachados entre o democrata e o “centrão” de Cunha. A decisão cabe somente aos representantes e eles sequer são questionados por isso, nem antes, nem durante e muito menos depois.
Se a aproximação com o povo é crucial para uma nova política do Brasil, o PT fez um gol de placa ao escutar sua militância e ratificar sua posição com base nisso. Ao mesmo tempo, o governo se afunda amplamente na areia movediça da velha política ao excluir a população brasileira do debate para presidente da câmara.
Mesmo a direita brasileira, se tiver o mínimo de honestidade intelectual, deve admitir o êxito do Partido dos Trabalhadores em fazer a maior bancada partidária da câmara seguir um indicativo de seus militantes.
Sendo assim, a estrela petista dá um passo importante para entrar na casa da nova política, a única que sobreviverá a longo prazo no Brasil, principalmente por assumir uma campanha aberta de transformação, a #mudaPT, que exige, no mínimo, humildade para admitir que a mudança é realmente necessária.
Na eleição “tapa buraco”, pós queda de Cunha, eu escrevi aqui no Cafezinho que considerava Erundina a vencedora moral do pleito. Argumentei, a época, que o Pragmatismo era como O Vencedor dos Los Hermanos, e que desse expediente, infelizmente, o PT tinha abusado algumas vezes, querendo a vitória sem pensar na falta que faz, de vez em quando, a glória de chorar.
Com licença: vou ali comprar um lenço vermelho e já volto.
*Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense. Sigam-o no Facebook! :)
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