sexta-feira, 18 de março de 2016

Da Lava Jato à Ilegalidade



Wanderley Guilherme dos Santos

A Lava-Jato começou como investigação de um cartel de empreiteiras associadas para fins criminosos a altos burocratas e políticos e converteu-se, primeiro, em intimidação latente a qualquer prática política e, por fim, óbvia determinação de inutilizar a vida civil e política do ex-presidente Lula da Silva. Obteve sucesso em construir uma coalizão tácita incluindo os meios de comunicação, os partidos de oposição e carimbados personagens, prontos a aceitar e defender qualquer tipo de ilegalidade que procuradores e policiais federais cometessem tendo em vista o objetivo final de prender o ex-presidente da República e retirar Dilma Rousseff da presidência. 


A origem da ilegalidade encontra-se nas sucessivas declarações do candidato presidencial derrotado, senador Aécio Neves, rejeitando a legitimidade da vitória da presidente Dilma Rousseff, e liderando seu partido, o PSDB, em permanente sabotagem da governança do País. Notório corrupto conforme delações na Lava-Jato, todavia inexplicavelmente protegido pelas autoridades responsáveis, promoveu publicamente teses subversivas da ordem legal com declarações levianas e sem lastro probatório. A ele juntaram-se diversos segmentos oposicionistas, ultrapassando a linha da tolerância democrática e aderindo à caudal sabotadora, substituindo a linguagem parlamentar e civilizada por insultos e ofensas impeditivas de qualquer debate produtivo.
 

Gradativamente a Lava-Jato transformou-se em disfarçada usina de chantagem política, com poder de arbítrio suficiente para traduzir um telefonema ou memorando escrito entre políticos com coloquiais do tipo “então, não esquece aquele negócio” ou “ficamos combinados assim”, em explosivas evidências de que acordos de extrema indecência haviam sido assim concluídos. Sem um segundo de cautela, toda a imprensa e os demais participantes da coalizão de justiceiros santificavam o abuso de autoridade, com pautas de jornalismo e análises ad hoc de inédita vulgaridade profissional. Sacando sobre os inegáveis resultados positivos que alcançara, a força-tarefa e seu corifeu construíram um roteiro de ações de claro cálculo político, com declarações, ora atrevidas, ora contrárias aos fatos, e já dispostos a truculências, sem temor de críticas públicas, silêncio obtido em parte pela cumplicidade da oposição tresloucada, em parte como resultado de chantagem subliminar e latente.
 

A malograda tentativa de prisão do ex-presidente Lula, em 4 de março, deu lugar a um interrogatório de fancaria no aeroporto de Congonhas, entre todos os lugares, em que as perguntas eram absolutamente não só banais, como já respondidas diversas vezes pelo interrogado, sobre pedalinhos, tríplex em nome da OAS, mas que os justiceiros dizem que é de Lula, orçamento do Instituto Lula, quando o relevante é a porcentagem dos tais recursos ilícitos dos doadores que foram destinados a outras instituições e pessoas. Se há um desvio de dez milhões de dólares e um milhão foram destinados a B, ele corresponde a dez por cento dos recursos ilícitos e o interesse primário devia consistir em verificar o destino dos 90% restantes. Se o milhão dado a B corresponde até a 100% de seu orçamento é fato subordinado ao destino dos demais 9 milhões. Pois a obsessão dos investigadores sequer menciona o problema. Ademais, o delegado inquisidor lançou em várias oportunidades uma casca de banana, com melíflua gentileza, lembrando a Lula que ele podia deixar de responder, se desejasse, pois não era obrigado. Ora, a manchete única, no dia seguinte, seria: LULA EMUDECE PARA NÃO SE INCRIMINAR. Para isso serviria a farsa do interrogatório em um aeroporto.
 

O grampo da presidente da República Dilma Rousseff, sob a responsabilidade direta do juiz Sergio Moro, e sua divulgação preferencial pelo sistema Globo não permite outra interpretação: tentativa de interferência no processo político nacional, com incitação à convulsão social. Sua ação, associada à permanente propaganda do sistema Globo de rádio, televisão e internet, estimulando a desordem, inclusive através de análises e comentários imperitos sobre matéria jurídica de elevada gravidade, dogmaticamente interpretando notícias fragmentadas e, finalmente, mentindo reiteradamente, comprovam que o País ingressou na ilegalidade, que o juiz Sergio Moro, partidariamente contaminado, perdeu o senso da legalidade jurídica, e que o monopólio do sistema Globo de comunicação é incompatível com a ordem constitucional.

Segunda Opinião 


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