sexta-feira, 25 de março de 2016

Torturar palavras. É golpe? Não é golpe?

Luiz Zanin

Há no ar um debate semântico-político. É golpe? Não é golpe? Impeachment não é golpe, dizem. Está na constituição. Verdade, ninguém nega. 


O que se diz é outra coisa: ESTA tentativa de impeachment que é, sim, golpista. Não há nenhum crime de responsabilidade provado. Querer derrubar uma presidente por pedaladas fiscais? É um mero pretexto. Golpista, sim. 


A direita brasileira tem medo das palavras. Ou as modifica a seu bel prazer. Prova? A manchete de O Globo no dia em que João Goulart, eleito, foi derrubado: "A democracia está de volta". Como na novilingua de George Orwell, no romance distópico 1984, as palavras adquirem sentido inverso. Ou sentido algum. Esvaziam-se. Golpistas não querem que se dê a eles o nome que têm. Um regime reacionário, instaurado após um golpe de estado, intitula-se "movimento revolucionário".

Como diria Gertrude Stein, um golpe é um golpe é um golpe.
 

O fascismo começa pela manipulação das palavras. É a isto, também, que devemos dizer não.


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