'Aumentar juros seria um erro de estratégia'
Para Antonio Corrêa de Lacerda, professor de Economia da PUC-SP, há grande pressão do mercado financeiro para uma elevação da taxa de juros.
O Banco Central tem dado sinais de que deve retomar a trajetória de alta na taxa básica de juros na próxima reunião do Copom, que acontece em 19 e 20 de janeiro. Para o professor de Economia da PUC-SP, Antonio Corrêa de Lacerda, uma decisão nesse sentido seria uma “grande incoerência” e um “erro de estratégia”.
Joana Rozowykwiat
Segundo ele, com a economia em queda e sem a pressão dos preços administrados, a inflação deve cair em 2016, abrindo espaço inclusive para baixar a Selic.
De acordo com o economista, há grande pressão do mercado financeiro para uma elevação da taxa de juros, que parece encontrar respaldo dentro do Banco Central. Mas subir a Selic, diz, não resolverá o problema da inflação passada e, para o professor, a inflação futura aponta para índices bem mais comportados.
“Não adianta mais olhar no retrovisor. A inflação que tivemos em 2015 é decorrente do câmbio – o real se valorizou 40%, 50% em relação ao dólar – e das tarifas públicas, como energia, combustíveis e transporte. São fatores que não se repetem, ao menos não na mesma grandeza, em 2016”, opina, prevendo que a inflação irá “se acalmar” este ano.
Ao comentar a mudança do ministro da Fazenda, Lacerda avaliou que o novo titular da pasta, Nelson Barbosa, tem um perfil que lhe dá mais espaço para interagir não apenas com o mercado financeiro, mas com trabalhadores, empresários e diversos setores da economia.
“Costumo dizer que nem sempre o que é bom para o mercado financeiro é bom para o país. Temos uma economia bastante diversificada no Brasil. Então é importante ouvir o mercado financeiro, mas também precisamos ouvir o setor produtivo e os trabalhadores”, afirma.
Para ele, a troca no ministério não significa necessariamente uma mudança profunda na política econômica. Inclusive porque o espaço para grandes transformações no curto prazo é reduzido. Mas a alteração pode aumentar o respaldo do governo entre os vários segmentos da economia, permitindo uma reordenação, voltada para criar as bases para a retomada do crescimento.
Na entrevista, o professor criticou o rentismo predatório que vigora no país. “Se criarmos uma sociedade de rentistas, que é basicamente o que temos no Brasil, você vai estar estimulando exageradamente o ócio e a especulação financeira, em detrimento da produção, do consumo, da renda e do emprego”, alerta.
Lacerda defendeu que é preciso ter no Brasil um mercado financeiro sólido e estável, mas sem deixar que uma taxa de juros elevada e a especulação desenfreada inviabilizem as atividades produtivas. “É muito fácil esse cálculo. A taxa de juros ideal é aquela compatível com a rentabilidade que você tem nas atividades produtivas. Toda vez que você tem uma taxa de juros maior, você vai estimular a especulação”, resume.
De acordo com ele, hoje, no país, a taxa de juros real – descontada a inflação – é de cerca de 6%. Em países desenvolvidos, costuma ser igual a zero ou até negativa. Nos demais países em desenvolvimento, oscila entre zero e 1%.
“A nossa taxa é cinco, seis vezes maior. Precisamos resolver as armadilhas que nós mesmos criamos ao longo do tempo, como a indexação, que é o reajuste automático de preços, tributos, contratos. E estabelecer um mecanismo de financiamento da dívida pública que privilegie o longo prazo, para que as pessoas se sintam mais confortáveis em investir na produção”, diz.
Questionado sobre a proposta apresentada pelo PT de elevar para uma alíquota de 40% o Imposto de Renda dos mais ricos, Lacerda analisa que a medida encontraria muita resistência. Mas aponta a necessidade de uma ampla reforma que promova maior justiça tributária.
“O Brasil tem uma carga tributária que é complexa, porque é um emaranhado de impostos que se sobrepõem, e é injusta porque você tributa muito o consumo e pouco a renda. Nesse sentido, o natural seria elevar a tributação sobre a renda”, defende.
Para ele, contudo, isso tem que ser feito no bojo de uma reforma mais ampla. “Porque senão há muita resistência. A sensação que as pessoas têm principalmente devido à má qualidade dos serviços prestados pelo Estado, é de que você vai pagar mais e não ter uma contrapartida”, afirma.
Como conciliar isso? “Reduzindo o maior gasto do governo, que hoje chega a 9% do PIB, que é o gasto com pagamento dos juros da dívida; restabelecendo uma melhora no ambiente de gastos públicos de forma perene, porque corte de investimentos é um tiro no pé, que desestimula a atividade. Precisamos de uma reforma fiscal e tributária que corrija essas distorções, abrindo espaço para o crescimento”, responde.
Carta Maior
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