Na última segunda-feira (6), o jornalão Folha de S. Paulo publicou o editorial intitulado "Falta o Centro", onde dizia que nem esquerda, nem direita, que a saída é o Centro. No atual estágio da crise brasileira, tenho acordo com a opinião do editorial da família Frias.
Acontece que muitos do campo de esquerda, no afã de analisarem uma das conjunturas mais complexas do último período histórico brasileiro, afirmam que o Centro político não existe mais. Bem como a burguesia nacional e o capital produtivo, pois afirmam que é um erro dialogar com um setor que está financeirizado e não tem mais compromisso com a produção. Agimos da mesma forma com as bancadas religiosas, em especial os evangélicos, por entender que estes são um empecilho à pauta de costumes, pois são todos reacionários. Acho que não podemos ser tão estreitos na atual conjuntura.
Fernando Henrique Cardoso, o oráculo tucano e do neoliberalismo tupiniquim, defende a construção de um "Pólo Democrático" para enfrentar e derrotar a extrema-direita. Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados, está num movimento de puxar o DEM ao Centro, aproveitando a entrada de deputados que podem desembarcar do PSB. Maia também se posicionou nesta sexta-feira (10) em sua página no Facebook, contra a proposta que proíbe o aborto até em casos de estupro, aprovada em comissão especial da Casa, afirmando que a proposta "não vai passar" no plenário da Casa. Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, em declarações recentes, disse que a reforma da previdência é necessária, "mas não pode penalizar os mais pobres". Afirmou ainda que "liberalismo puro é incivilização". FHC, Maia e Alckmin se movem, corretamente, para dialogar com o Centro. Como nos exemplos acima, a direita tem sinalizado constantemente ao Centro.
Já a esquerda, não. É compreensível que a derrota a partir do impeachment - o golpe por dentro - desorganizou parcelas do campo que, desorientadas, passaram a negar a política, a realidade e, sobretudo, a correlação de forças. Sem contar os que louvam os setores da burocracia estatal antinacional (MP, PF e setores do Judiciário) que estão destruindo o país.
O centro político, entendo eu, é polarizado pelo poder e pela expectativa de poder. Vai mais à esquerda ou à direita dependendo pra onde o vento sopra - a imagem que ilustra bem é a de uma biruta de um aeroporto. Mas não se trata de categorizar apenas partidos. No meio de tudo isso existe o povo, o eleitor médio, de centro, em geral, progressista na economia e conservador nos costumes. Daí, pergunto: Numa conjuntura tão complexa quanto a que vivemos, e querendo sair do isolamento, devemos criar pontes ou implodi-las?
Outro exemplo, o empresariado não adere ao rentismo por ideologia. Eles vão atrás do lucro, onde quer que este esteja. Se é no rentismo, lá que estarão. Se a produção volta a dar lucro, voltam a investir. A população de religião evangélica faz parte da massa popular de beneficiários das políticas sociais de nossos governos. Pergunto novamente, dialogamos com este grupo ou entramos em rota de colisão com eles na pauta de costumes?
Enquanto alguns apostam na radicalização, a direita busca o diálogo com o centro político e o eleitor médio. O "esquerdismo, a doença infantil do Comunismo", como dizia Lenin, costuma produzir desastres eleitorais e nos lançar ao isolamento.
Lula fez muito bem em sinalizar a intenção de ampliar o diálogo com o Centro na fala onde "perdoa os golpistas". Não se ganha eleição sozinho, pois no Brasil se ganha com 50% dos votos mais 1. Hoje, o campo democrático-popular está restrito a, aproximadamente, 30% do eleitorado brasileiro. E mais, Frente de Esquerda é auto-afirmação. É sinônimo de derrota e isolamento. Feio não é fazer alianças programáticas com ex-golpista, é perder as eleições e ver o país ser destruído.
O pleito de 2018 será de caráter plebiscitário, ou seja, estabelecerá que país queremos. Logo, é fundamental a disputa por uma nova maioria política e programática capaz de retomar o projeto e avançar na construção de um Brasil mais justo, soberano, solidário e democrático.
Brasil 247
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