Essa decisão abre uma brecha que permite mais um tenebroso passo no golpe em curso no Brasil desde 2016, com a possibilidade de implantação do parlamentarismo por decisão do Congresso Nacional sem consultar a população através de um plebiscito.
É golpe – acusou prontamente a pré-candidata do PCdoB à presidência da República, Manuela D’ Avila, acompanhando a reação de seu partido junto com o PT, PDT e PSB que, em nota conjunta, protestaram contra a iniciativa que castra os poderes do presidente a ser eleito em 2018.
Em teoria, o parlamentarismo pode ser uma forma de governo mais democrática por se basear na força do Congresso Nacional. Este foi o espírito da consulta popular de 1993 que, cumprindo determinação constitucional, decidiu sobre a forma de governo. No plebiscito de 21 de abril daquele ano o presidencialismo teve 55,4% dos votos e o o parlamentarismo ficou com 24,6%.
A tentativa de parlamentarismo que a direita conservadora tenta de novo não se filia ao espírito democrático de 1993. Repete, como farsa, o golpe de 1961, quando a direita e os chefes militares conservadores tentaram impor esse sistema de governo para manietar o exercício da presidência da República pelo presidente João Goulart. O titular, Jânio Quadros, havia renunciado e Goulart, visto como esquerdista e ligado aos trabalhadores, era inaceitável para a direita. Na crise iniciada, os ministros militares tentaram impedir sua posse. Só a aceitaram com a mudança no sistema de governo. Impuseram o parlamentarismo na vã suposição de que os poderes presidenciais seriam apenas formais, cabendo seu exercício, na verdade, a um primeiro ministro que a direita controlaria.
Não durou muito – pouco mais de um ano depois, o plebiscito (realizado em janeiro de 1963) restaurou os poderes que haviam sido negados a Goulart, a derrota da direita foi acachapante: o presidencialismo teve 9,5 milhões de votos (82% do total) contra 2,1 milhões ao parlamentarismo. O plebiscito significou uma verdadeira eleição popular de João Goulart.
Editorial do site Vermelho
Altamiro Borges
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