Numa pasta esvaziada, sem recursos, que há anos é feudo do PMDB, o nome da senadora é um avanço
Rui Daher
Katia Abreu teria combatividade para atender suas necessidades diante de uma equipe econômica ortodoxa
Há bom tempo trabalho com a ideia de que a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), seria a escolhida para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), num segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff.
Na verdade, apimentando em nível cinco o lado político, previ o fato logo que a senadora seguiu sua longa transição partidária (PFL-DEM-PSD) para, finalmente, desaguar no PMBD, partido da base do governo e senhor feudal da Pasta.
A nova ministra é pecuarista no estado de Tocantins e preside a CNA, um simulacro institucional da bancada ruralista, desde 2008. Foi reeleita recentemente.
O pré-anúncio, surgido em folhas e telas cotidianas nos últimos dias, fez estarrecer a esquerda, movimentos sociais e ambientalistas, que logo se lembraram de históricas posições de Kátia Abreu.
Não citarei, por educação, epíteto que a associa a certo equipamento barulhento e perigoso usado por contumazes agentes do desmatamento.
Diversas vezes divergi das posições da futura ministra. Fui das formas irônicas às mais duras. Nunca, porém, deixei de reconhecer seus conhecimentos sobre o agronegócio, sua combatividade em relação à forma equivocada como a sociedade vê o setor, e sua defesa intransigente aos ataques vindos de interesses econômicos exteriores.
Equivocou-se ao defender várias das mudanças do Código Florestal. Para defender pleitos ruralistas e contrapor teses corretas da comunidade científica, encomendou estudos no mínimo falaciosos. Com frequência, tem-se colocado contra os direitos territoriais indígenas, quilombolas, assentamentos, e critica a instauração de legislação trabalhista mais justa e abrangente para o setor rural.
Também, Kátia Abreu não se cansa de exigir maior rapidez na aprovação pelo MAPA de novos agrotóxicos, em óbvia dobradinha com as fabricantes multinacionais e porta-vozes de associações várias. Nunca se pronunciou pedindo a mesma rapidez para tecnologias produzidas de materiais orgânicos e naturais, efetivas em produtividade e mais baratas, mas originadas de gente pequena e sem lobby.
Tudo isso é motivo para seus constantes embates com órgãos do governo, FUNAI, INCRA, MAPA, ANVISA.
Reconheço que tudo isso assusta aqueles que veem a agropecuária não apenas do alto, mas também com a lupa. Principalmente, aquela que perscruta problemas sociais.
Mas o que se deveria esperar? João Pedro Stédile ministro?
Aguentarei as pedras pela heresia: a escolha da presidente Dilma Rousseff não poderia ter sido mais acertada.
O MAPA é, atualmente, um ministério esvaziado, sem recursos, voltado apenas a aspectos burocráticos e regulatórios. Sua pedras da coroa são Embrapa e CONAB que, apesar dos percalços, ainda fazem um bom trabalho. Quando a última não o faz, o IBGE duplica.
No mais, é um apêndice do ministério da Fazenda para anunciar os Planos Anuais de Safra, monocórdios e, ultimamente, sempre com recursos crescentes de financiamentos e de seguro rural a juros subsidiados.
Há décadas, feudo do PMDB que, invariavelmente, indica para o cargo ministros sem qualquer conhecimento da agropecuária. Kátia Abreu é um avanço. A exceção foi Roberto Rodrigues, no primeiro mandato de Lula.
Mais: é muito provável que os grandes produtores de commodities percam rentabilidade nos próximos dois anos em função dos estoques e preços dos grãos no mercado internacional.
Quem melhor do que a sensibilidade e a combatividade de Kátia Abreu para atender suas necessidades diante de uma equipe econômica que já se mostra com perfil ortodoxo?
Hoje em dia, assentamentos, comunidades quilombolas, aldeias indígenas, com as raríssimas exceções dos que se organizaram nos moldes de agricultura familiar, representam um proletariado desprotegido, sem meios de autorreprodução e integralmente dependente da ajuda do Estado.
Formados por remanescentes escravos, negros, índios e caboclos, são grupos sem reconhecimento de passado e legado, em País de elite econômica que pouco percebe a miséria ao seu lado, o que dizer de resgates seculares.
O INCRA estima a existência de 3.000 comunidades quilombolas; há 9.200 projetos de assentamentos com cerca de um milhão de famílias ali vivendo; FUNAI/IBGE informam 900 mil indígenas autodeclarados, em territórios reservados ou zonas rurais.
Estamos nos referindo a, vá lá, cerca de 4, 5 milhões de brasileiros (se não concordarem, me ajudem na estimativa), ou 2% da população total, esperando consistência do apoio governamental e atenção da sociedade.
Pois bem, para eles, que precisam da lupa social, mais importantes do que o MAPA, com Kátia Abreu ou sem, serão os ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, para os quais a esquerda deve exigir comando comprometido com tais causas.
Não se assustem. O bicho-papão já entendeu o quanto os modelos antigos de motosserras estão superados.
Carta Capital
Há bom tempo trabalho com a ideia de que a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), seria a escolhida para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), num segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff.
Na verdade, apimentando em nível cinco o lado político, previ o fato logo que a senadora seguiu sua longa transição partidária (PFL-DEM-PSD) para, finalmente, desaguar no PMBD, partido da base do governo e senhor feudal da Pasta.
A nova ministra é pecuarista no estado de Tocantins e preside a CNA, um simulacro institucional da bancada ruralista, desde 2008. Foi reeleita recentemente.
O pré-anúncio, surgido em folhas e telas cotidianas nos últimos dias, fez estarrecer a esquerda, movimentos sociais e ambientalistas, que logo se lembraram de históricas posições de Kátia Abreu.
Não citarei, por educação, epíteto que a associa a certo equipamento barulhento e perigoso usado por contumazes agentes do desmatamento.
Diversas vezes divergi das posições da futura ministra. Fui das formas irônicas às mais duras. Nunca, porém, deixei de reconhecer seus conhecimentos sobre o agronegócio, sua combatividade em relação à forma equivocada como a sociedade vê o setor, e sua defesa intransigente aos ataques vindos de interesses econômicos exteriores.
Equivocou-se ao defender várias das mudanças do Código Florestal. Para defender pleitos ruralistas e contrapor teses corretas da comunidade científica, encomendou estudos no mínimo falaciosos. Com frequência, tem-se colocado contra os direitos territoriais indígenas, quilombolas, assentamentos, e critica a instauração de legislação trabalhista mais justa e abrangente para o setor rural.
Também, Kátia Abreu não se cansa de exigir maior rapidez na aprovação pelo MAPA de novos agrotóxicos, em óbvia dobradinha com as fabricantes multinacionais e porta-vozes de associações várias. Nunca se pronunciou pedindo a mesma rapidez para tecnologias produzidas de materiais orgânicos e naturais, efetivas em produtividade e mais baratas, mas originadas de gente pequena e sem lobby.
Tudo isso é motivo para seus constantes embates com órgãos do governo, FUNAI, INCRA, MAPA, ANVISA.
Reconheço que tudo isso assusta aqueles que veem a agropecuária não apenas do alto, mas também com a lupa. Principalmente, aquela que perscruta problemas sociais.
Mas o que se deveria esperar? João Pedro Stédile ministro?
Aguentarei as pedras pela heresia: a escolha da presidente Dilma Rousseff não poderia ter sido mais acertada.
O MAPA é, atualmente, um ministério esvaziado, sem recursos, voltado apenas a aspectos burocráticos e regulatórios. Sua pedras da coroa são Embrapa e CONAB que, apesar dos percalços, ainda fazem um bom trabalho. Quando a última não o faz, o IBGE duplica.
No mais, é um apêndice do ministério da Fazenda para anunciar os Planos Anuais de Safra, monocórdios e, ultimamente, sempre com recursos crescentes de financiamentos e de seguro rural a juros subsidiados.
Há décadas, feudo do PMDB que, invariavelmente, indica para o cargo ministros sem qualquer conhecimento da agropecuária. Kátia Abreu é um avanço. A exceção foi Roberto Rodrigues, no primeiro mandato de Lula.
Mais: é muito provável que os grandes produtores de commodities percam rentabilidade nos próximos dois anos em função dos estoques e preços dos grãos no mercado internacional.
Quem melhor do que a sensibilidade e a combatividade de Kátia Abreu para atender suas necessidades diante de uma equipe econômica que já se mostra com perfil ortodoxo?
Hoje em dia, assentamentos, comunidades quilombolas, aldeias indígenas, com as raríssimas exceções dos que se organizaram nos moldes de agricultura familiar, representam um proletariado desprotegido, sem meios de autorreprodução e integralmente dependente da ajuda do Estado.
Formados por remanescentes escravos, negros, índios e caboclos, são grupos sem reconhecimento de passado e legado, em País de elite econômica que pouco percebe a miséria ao seu lado, o que dizer de resgates seculares.
O INCRA estima a existência de 3.000 comunidades quilombolas; há 9.200 projetos de assentamentos com cerca de um milhão de famílias ali vivendo; FUNAI/IBGE informam 900 mil indígenas autodeclarados, em territórios reservados ou zonas rurais.
Estamos nos referindo a, vá lá, cerca de 4, 5 milhões de brasileiros (se não concordarem, me ajudem na estimativa), ou 2% da população total, esperando consistência do apoio governamental e atenção da sociedade.
Pois bem, para eles, que precisam da lupa social, mais importantes do que o MAPA, com Kátia Abreu ou sem, serão os ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente, para os quais a esquerda deve exigir comando comprometido com tais causas.
Não se assustem. O bicho-papão já entendeu o quanto os modelos antigos de motosserras estão superados.
Carta Capital
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