O triunfo eleitoral da presidenta Dilma Rousseff conquistando mais um mandato para dirigir os destinos da nação nos próximos quatro anos é um episódio elevado da vida política brasileira, desde a proclamação da República, há 125 anos. Como temos assinalado, foi a quarta vitória eleitoral sucessiva do povo brasileiro, coroando uma fase de desenvolvimento democrático e social virtuoso inaugurada em 2002, com a primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A valoração deve-se ao nível da batalha vencida, em que a coligação Com a Força do Povo, liderada pelo Partido dos Trabalhadores com a participação protagonista dos comunistas, enfrentou candidaturas oposicionistas agressivas, representativas de um poderoso condomínio de forças conservadoras e neoliberais. A campanha de Dilma venceu porque expressou uma mensagem nítida, com ideias-força mobilizadoras, correspondentes aos profundos anseios do povo brasileiro. Uma mensagem democrática, patriótica, da mudança social e do posicionamento do Brasil no mundo em favor da paz e da democratização das relações internacionais.
Foi um embate duro, em que a candidata teve que desmascarar o discurso e as práticas dos adversários, quando defenderam o primado dos interesses da oligarquia financeira sobre os direitos do povo e a soberania da nação; em que se comprometeu com a salvaguarda das conquistas trabalhistas e sociais, propugnou o avanço civilizacional e acenou para a juventude com o programa de revolução educacional. Os campos ficaram bem demarcados. Na confusão política e ideológica fomentada por uma mídia que se converteu em usina de mentiras, Dilma deixou cristalino o caráter da sua candidatura, o lugar e o papel do seu governo como força propulsora de reformas e mudanças.
O nível da batalha permanece elevado no momento pós-eleitoral, que se caracteriza por intensa luta política. O Brasil vive um momento crucial em seu desenvolvimento político, em que os inimigos do povo lançam mão de todas as armas para reverter a sua derrota eleitoral: intentos de deslegitimar o veredito das urnas, ameaças golpistas, pressões para que a mandatária adote o programa derrotado e faça um governo contraditório com a mensagem da campanha, em meio a intrigas, pressões, especulações, que incluem o vazamento e a exploração indevida do conteúdo de audiências e reuniões internas da Presidência da República, e a inescrupulosa tentativa de envolver a mandatária em escândalos de corrupção.
No exercício da oposição sistemática à presidenta Dilma, a mídia saca apressadas conclusões das suas próprias fantasias. Assevera, com a certeza absoluta dos incautos, que Dilma já tomou a decisão de adotar a política econômica funcional aos interesses do capital financeiro – pelo que comemoram – ao mesmo tempo que entoam o cantochão do “estelionato eleitoral”, para desqualificar a estadista e semear a confusão nas fileiras da militância política e social dos movimentos e partidos de esquerda.
A recomposição ministerial, numa situação política e economicamente complexa como a que vive o Brasil, é tarefa aturada que demanda visão de conjunto, realismo, habilidade política, paciência e tempo. É fantasiosa a visão de que a nomeação do ministro da Fazenda e do conjunto da equipe econômica resolva todos os problemas nacionais e estabeleça a marca definitiva do segundo mandato da presidenta. Mais fantasiosa ainda é a versão de que, caso escolha para a Fazenda um quadro formado segundo os cânones da disciplina fiscal, a sorte esteja lançada e o “mercado” terá vencido. E não passa de delírio a visão de que Dilma nomearia para estar à frente da Economia alguém que não se enquadrasse nos marcos gerais da sua orientação ou não obedecesse à autoridade presidencial.
Na nova situação política, conclusões precipitadas e atitudes imprudentes são tudo o que os inimigos do povo brasileiro querem. A melhor atitude para com o novo mandato da presidenta Dilma deve ser informada não pelo temor da defraudação, mas pela premissa de que as forças que foram decisivas para a conquista do triunfo eleitoral confiam em que a presidenta cumprirá seus compromissos. O coração valente indispensável para vencer a eleição é o mesmo que pulsará no compasso do povo, em suas legítimas exigências de mudanças e reformas estruturais democráticas.
Dilma merece a renovação integral da confiança depositada pelo povo brasileiro nas urnas a 26 de outubro. O seu crédito político é da mesma dimensão da batalha realizada, tem a mesma grandeza da vitória conquistada.
O Brasil vive uma situação econômica difícil, cuja persistência pode implicar perda de conquistas. Ao vencer as eleições, Dilma recebeu também o mandato para tomar medidas emergenciais para evitar o pior na economia e realizar os pactos necessários com o setor produtivo, a fim de retomar o crescimento, defender o emprego, os salários, os programas sociais, a capacidade industrial e a performance comercial do País.
O mesmo apoio, o mesmo crédito e a mesma confiança a mandatária precisará para reorganizar a sua base de sustentação política nas duas casas legislativas. A eleição de presidentes da Câmara e do Senado comprometidos com a democracia, a justiça social, a soberania nacional e politicamente capazes de rechaçar o golpismo será indispensável para encaminhar por uma via segura as mudanças que a nação reclama.
Vermelho
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