domingo, 20 de janeiro de 2013
Poder público de cidades esquecidas no Brasil se perpetua pelo clientelismo
Dos cidadãos que têm carteira assinada, a maioria trabalha para a prefeitura e, parte deles, só terá emprego enquanto o candidato deles estiver no comando da cidade
Victor Martins
O Brasil que persiste em Flores ainda é um país onde o poder público se perpetua pelo clientelismo. Dos cidadãos que têm carteira assinada, a maioria trabalha para a prefeitura e, parte deles, só terá emprego enquanto o “candidato deles” estiver no comando da cidade. Alguns poucos habitantes prestam serviço às 92 empresas instaladas no município e a fazendeiros. Porém, nem todas as firmas ou fazendas cumprem as regras e impõem condições de trabalho precárias e insalubres. A região é tão pobre, que 47,8% dos lares recebem o Bolsa Família e 131 não têm qualquer renda.
“Eu sustento meus filhos com a ajuda dos vizinhos, de parentes ou de algum bico que aparece. Essa casa aqui é da minha tia”, revela Geni Rodrigues dos Santos, 31, cozinheira desempregada e mãe solteira de cinco filhos. A casa onde ela mora é de taipa revestida, não tem energia elétrica ou laje e as paredes estão ruindo. Juan, de seis anos, filho de Geni, não entende muito bem o Brasil em que nasceu. Para ele, faltam apenas duas coisas para que sua infância seja mais feliz: uma televisão e um parquinho. “Aqui não tem onde a gente brincar”, queixa-se.
Juan, assim como todas as crianças do povoado de Santa Maria, está à espera de uma quadra inacabada e de uma creche que deveria estar pronta há 20 anos. “Quando minha filha nasceu, fiquei feliz porque estavam fazendo a creche. Ela completou 23 anos e até hoje a obra não saiu do lugar”, relata uma moradora que tem medo de se identificar.
O povoado, que abriga quase mil habitantes, também não tem asfalto, esgoto, escoamento para água de chuva. A iluminação pública é precária e a telefonia, mais ainda. As linhas fixas mal funcionam e, apesar de haver uma torre da empresa Oi, não há sinal de celular e internet. “Para o meu gosto, até que a situação atual está boa. Quando eu cheguei aqui era só capim para tudo que é lado”, lembra Dona Maria, 76 anos. “Mas bem que o governo podia olhar um pouco mais para cá", afirma.
Correio Brasiliense
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