quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O cartão de visita dos maus serviços




Flavio Damiani


Está escrito na plaquinha que dirigir ofensas ou desacatar um servidor público dá cadeia, mas em nenhum lugar da mesma plaquinha fala dos direitos do cidadão.

Dona Maroca estava na fila com a ficha na mão e pronta para ser chamada. Seria a próxima, e viu com espanto que dos cinco atendentes três fecharam suas gavetas, recolheram suas tralhas e tomaram o caminho da porta de saída.

Dos dois que sobraram um levantou-se, foi buscar um cafezinho, ficou de papo com um colega num canto da sala e quando retornou pegou o telefone e ligou para cumprimentar o amigo pela vitória do Corinthians.

Só restava um, e foi nele que Maroquinha afinou o olho e concentrou toda a atenção. Afinal, a repartição tinha 20 guichês de atendimento e só sobrara uma única alma para liquidar a demanda. Ele atendia pacientemente uma pessoa, ria e parecia que trocava uma receita de bolo.

Maroca finalmente foi chamada.

Sentou-se com dificuldade por conta de um problema na coluna, abriu a pasta com toda a documentação exigida na visita anterior.

- A certidão de nascimento só tem validade por 90 dias e ela está vencida, a senhora vai ao cartório, retira um novo e traz aqui, sentenciou o atendente com ar de soberba.

Como se fosse fácil para aquela pobre velhinha que nascera em mil novecentos e Niemayer, bem longe dali pros lados do Itaqui, uns 700 quilômetros da capital… e os cartórios não são on line.

- Mas da outra vez a outra pessoa que me atendeu não falou que a certidão precisava de validade, mesmo porque eu nunca nasci de novo, argumentou a senhora.

- Eu não tenho culpa se não lhe deram a informação correta e regras são regras.

- Soberbas são soberbas e a falta de consideração mora no teu coração, emendou Maroquinha evitando adjetivar com alguns provérbios a atitude sob a ameaça da plaquinha.

A falta de sensibilidade do mau servidor está no sangue que se revela um excelente tranca rua, se debruça sobre a bíblia da burocracia para complicar a vida do contribuinte.

Outra característica é o olhar de desprezo como se fosse o dono do pedaço e chega ao orgasmo quando viu que prestou um mau serviço. Um cão raivoso a procura de uma vítima geralmente indefesa como no caso da velhinha.

A falta de gestão deveria ser caso de policia onde comandantes e comandados deveriam escrever dez mil vezes em folhas de papel: O contribuinte é um ser humano e a ele devo o meu emprego. Passar depois por uma reciclagem e finalmente por uma triagem. Aí pode ser que não sobre nenhum.

O cartão de visita do mau servidor e do serviço público é a plaquinha:

Sul 21

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