quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Salvai nossas crianças das drogas!


Siro Darlan*

O combate das drogas tem se mostrado inútil e gerado cada vez maior número de vítimas inocentes

Véspera de Natal, e já começamos a festejar a paz alcançada, ao que parece graças à ação das forças de segurança unidas na conquista de espaços públicos antes renunciados através da inércia do administrador público. Não será cedo demais para comemorar? O vácuo deixado pela ausência de políticas públicas ainda persiste.

Enquanto não estiver ocupado pelos poderes que levem educação, saneamento básico, justiça social, muito pouco adiantará a presença das forças de segurança.

A política de enfrentamento das drogas através de forças policiais é um equívoco, que essa aparente derrota dos comerciantes do complexo do Alemão pode gerar uma falsa sensação de vitória. A droga só poderá ser contida se houver uma sincera política educacional que mostre aos usuários as desvantagens que o seu consumo provoca na saúde.

O combate raivoso da substância química tem se mostrado inútil e fabricado cada vez maior número de vítimas inocentes. Aqueles que já experimentaram a dor de ver entre seus amados parentes sabem que é preciso tratá-los como seres que necessitam de tratamento e solidariedade. O sentimento de raiva só nos faz mal, e não haverá nenhum benefício enquanto a droga não for enfrentada com o desejo de esclarecer e curar. A prisão pura e simples não cura ninguém.

O cerco feito ao exército de Brancaleone no complexo do Alemão mostrou algumas imagens que merecem nossa reflexão. Ao ser mostrado na televisão o êxodo dos meliantes transportando-se de uma localidade para outra, houve quem estranhasse não tivessem os policiais surpreendido a eles com armas e um tiroteio que os derrubasse.

Sentimento que muitas vezes toma conta da coletividade sem cérebro que não pensa, mas se deixa levar por impulsos de selvageria.

Felizmente, a opção foi mais inteligente e fez-se o cerco que propiciou uma parcial redenção quase sem vítimas. A Bandeira do Brasil e da felicidade foi hasteada onde o Estado impôs a ordem recuperando o espaço perdido para a criminalidade. Mas, e agora, o que será feito para mostrar que o Estado não é só força policial?

Quantos novembros terão que esperar ainda os moradores, tão aliviados com a retirada do poder que os coagia, para ver ali construídas as escolas, os postos de saúde, as áreas de lazer e os serviços de saneamento básico, as moradias que lhes darão dignidade?

É hora de se fazer justiça a esse povo tão abandonado e vilipendiado, e é preciso que a Justiça se faça presente com juizados especiais de resolução rápida de pequenos conflitos, de defesa dos consumidores espoliados e explorados. Urge que se promovam programas de Terapia Comunitária, Justiça Restaurativa, técnicas de mediação e capacitação das lideranças locais para que assumam seu papel na condução organizada da comunidade.

Embora deva ser louvada a ação pioneira e corajosa e organizada das forças policiais, acho prematuro o hasteamento do pavilhão nacional que só deverá tremular onde o respeito à dignidade dos cidadãos estiver presente e para comemorarmos o Dia da Festa da Cidadania ainda muitos caminhos precisarão ser trilhados.

* Desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a Democracia.

Jornal do Brasil

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