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Quanto treino é exigido do homem urbano para passar do útil, do produtivo, para o à toa, o fazer por fazer?
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O AUMENTO da proporção de idosos na população vem preocupando governos de todo o mundo. Atender os de mais idade demanda revisão da distribuição orçamentária, assunto bem complicado para legisladores e executivos. Difícil chegar a consenso.
Lendo sobre o assunto e mesmo vivendo na própria pele, eu queria falar sobre o uso, pelos idosos, não dos recursos econômicos, mas do tempo e do espaço.
Não há a menor dúvida entre especialistas de que a qualidade de vida do idoso relaciona-se com a atividade tanto mental quanto corporal. Mudar de ser planejante, sempre cheio de objetivos e intenções, para um ser capaz de atividades com vistas não para o "amanhã" e sim para o "aqui agora" demanda treino, consciência e empenho.
As instituições voltadas à saúde do idoso preocupam-se com gastos, prevenção, orçamento, sem dúvida parte importante do problema.
Mas eu pergunto: quanto treino é exigido do homem urbano para passar do útil para o à toa, o só por fazer, pelo simples prazer de realizar e se aperfeiçoar?
A aposentadoria muitas vezes pode parecer precoce, e o tempo de vida, depois de terminada a chamada etapa produtiva, foi se tornando, felizmente, cada vez mais longo. Deveríamos cuidar do projeto para o bem viver nessa faixa etária bem antes de a aposentadoria ocorrer.
É necessário desenvolver aptidão para o fazer por fazer, o estar por estar, sem qualquer ligação com fins outros que não o instante que se está vivendo.
Isso é mais ou menos familiar com crianças antes de entrarem na escola propriamente dita. No pré e no jardim, tudo é espontâneo e à toa. Mas não há nenhuma possibilidade de retorno a essa etapa na terceira idade.
Toda uma outra história já se inseriu nas nossas vidas, marcando as mentes a ferro e fogo, como tatuagem.
Já escrevi sobre a importância da praça neste mesmo espaço de jornal. Retomo a ideia. Cabe aos urbanistas e a eles dirijo o pedido de prever muitos espaços de convivência -esportivos, artísticos, culturais ou de mero convívio.
Lugares que não existam para despertar desejos, como shoppings, mas sim espaços públicos de uso voluntário, isto é, onde não se precise ter carteirinha nem dinheiro.
Quero ir, voltar, ficar só ou em companhia. Quero ser objeto de trabalho de urbanistas e promotores culturais, não só de médicos e economistas
Anna Verônica Mautner
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