quarta-feira, 7 de março de 2018

Imaginário político Pernambucano



Por Michel Zaidan Filho

“Eu sou mameluco, eu sou leão do norte….”

Como as épocas históricas, os povos não são tradicionalistas por vocação. São por necessidade. Desde a Revolução de 30, quando as oligarquias estaduais perderam parte do poder de que gozavam, produziu-se um discurso saudosista, cujo objetivo era provar que o Brasil, a brasilidade, os brasileiros tinham nascido no Norte, no Nordeste, em Pernambuco ou em Apipucos, Olinda, nos Montes Guararapes ou no marco zero….

Essa astuta engenharia simbólica produziu uma religião, uma igreja e seus sacerdotes. O seu grão-mestre chamava-se Gilberto Freyre, e sua obra “a brasilidade nordestina”. Na ausencia da pompa e circunstância dos tempos dos barões, condes e viscondes, era indispensável agora escrever a epopéia civilizatória, a saga da oligarquia nordestina. Saga alimentada por mitos, fábulas e ficções que nos fizesse crer que éramos mais brasileiros do que os outros brasileiros. Criou-se até uma ciência cujo propósito era conferir legitimidade científica à fábula e os bardos armoriais passaram a falar em “nordestinados”, “nor-destinos”.



A posição de subalternidade economica da nossa região, no contexto da nova divisão nacional do trabalho, passou a ser compensado com as proezas de João grilo, as memórias de alcova do senhor de engenho falido, ou a apresentaão épica do patronato da “Casa Grande”, os pais-fundadores da nordestinidade brasileira. Daí o salto para o nativismo, o nacionalismo, o republicanismo e até o socialismo caboclo foi rápido. Pernambuco era o berço precoce de todas as ideologias politicas modernas, convivendo é claro com o museu natural da história do escravismo e da dominação branca, cristã e lusitana, de que o patronato político sempre se achou hereditário.



Dessa tradição vem o costume de embalar os mortos e os falecidos com a bandeira do heroismo, da honestidade, da coragem, da bravura indômita etc. O sujeito podia ter sido um cafajeste. Mas depois de morto, virava santo. A morte seria uma espécie de purgatório, que reabilitava as pessoas para a posteridade. Sobretudo, se fôsse rico, bem sucedido, bem relacionado e influente. Aí, não tinha defeito o falecido. Só virtudes e qualidades. Imagine-se quantos martires, santos e heróis pernambucanos não foram produzidos por essa astuta operação de elevação moral e cívica dos que se foram. Imagine os livros de estória (em quadrinhos) distribuidos nas escolas públicas com essa hagiografia cívica, produzida pela nossa “brasilidade nordestina”!



Essas considerações vem a propósito desse culto totemico que costumamos fazer a determinadas personalidades politicas, economicas e sociais da nossa região. Enquanto não formos capazes de “humanizarmos” essas criaturas, desmitologizando-as e reduzindo-as à sua condição de simples mortais, enterrando seus espíritos definitivamente nos jazigos e cemitérios, não construiremos jamais uma sociedade de homens e mulheres livres e iguais.



Blog do Jamildo


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