domingo, 18 de março de 2018

Lobo cordeiro ameaça comunista


Luciana Hidalgo

Outro dia ouvi um jornalista falando sobre “comunismo” numa rádio como se fosse uma “ameaça” atual, como se vivêssemos em plena Guerra Fria. Achei tão engraçado que escutei até o fim.


Dias depois, numa conversa sobre programas sociais na França, alguém perguntou: “Ué, mas a França é comunista?”. Me contive e respondi calmamente: não, querido, a França é capitalista. E mais: o comunismo hoje não é ameaça em lugar algum.



Triste notar que uma parte da população brasileira estacionou no vocabulário dos anos 1960/70, enquanto na Europa o “comunismo” não é mais visto como ameaça nas conversas em cafés, muito menos em rádios. A saber: o muro de Berlim foi derrubado há quase 30 anos! Cuba recebeu recentemente o Obama! a “comunista” China é hoje uma das maiores economias no ranking dos países... capitalistas! a Coreia do Norte é um país tão fechado que pelo visto não tem o menor interesse em espalhar sua ideologia além das suas fronteiras; etc. etc.



Fica difícil ouvir um jornalista brasileiro evocando erros e crimes da velha URSS, num terrorismo ideológico caduco, só para derrubar ideais legítimos da esquerda hoje. Isso é de uma desonestidade intelectual inaceitável.



O combate às violações de direitos humanos e à desigualdade social não é “comunismo”. Aliás, não conheço ninguém de esquerda hoje que queira um regime comunista soviético stalinista. Ninguém.



O que a maior parte da esquerda brasileira quer hoje é o que muitos países europeus capitalistas (não comunistas) já têm: saúde e educação gratuitas para todos, um salário-mínimo de aproximadamente R$ 4 mil (como na França), um seguro-desemprego decente e durável, auxílio-moradia para famílias desprivilegiadas (não para juízes ricos, como no Brasil), direito humanos e trabalhistas assegurados.



Enquanto na Europa esses são “valores republicanos”, aqui é “comunismo”. Um pouco de honestidade intelectual não faria mal a certos comentaristas de rádios que, ao adotarem o estilo Ratinho de falar, tornam-se cada vez mais populares apenas pelo sensacionalismo.



É urgente “desratizar”, dedetizar as rádios desse discurso anacrônico, nocivo e totalmente démodé.



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