sábado, 29 de julho de 2017

Delegada da PF recoloca os pingos nos "is" nas conversas de Machado


Independentemente da simpatia (ou da antipatia) de cada um por Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney, que, como qualquer homem público, contam com apoiadores e com adversários em Brasília e em seus respectivos estados, não há outra coisa a fazer, para quem defende a democracia no Brasil, a não ser comemorar a decisão - corretíssima - da delegada da Polícia Federal Graziela da Costa e Silva, de descaracterizar a acusação de tentativa de "obstrução de justiça" que pesava contra eles, no contexto de gravações telefônicas premeditadamente feitas por Sérgio Machado, com a intenção de fazer jus a "delação premiada".



Como já dissemos aqui, a Operação Lava-Jato tem sido tratada, pelos membros de sua Força-Tarefa, por boa parte de procuradores e juízes e delegados da Polícia Federal - muitas vezes por meio de suas associações de classe - e por poderosos segmentos da mídia, como um inatacável e impoluto tabu, uma espécie de vaca sagrada que merecesse uma estátua em cada esquina, e tivesse o dom de transformar automaticamente em leproso, bandido ou corrupto qualquer um que ousasse - como ocorre com Lula, por exemplo - criticá-la.



Quando, na verdade, trata-se de uma iniciativa com nefastas conseqüências políticas e econômicas, que:



- abriu caminho para a defesa do golpe de 2016 junto à opinião pública.



- Cresceu com a desestabilização do equilíbrio institucional necessário à governabilidade e ao exercício normal da democracia.



- Promoveu, direta e indiretamernte, a destruição da engenharia brasileira e de nossas maiores empresas, dentro e fora do país, com a interrupção e o sucateamento de dezenas de projetos e programas estratégicos nas áreas de petróleo e gás, infraestrutura e defesa, no valor de dezenas de bilhões de dólares.



- Quebrou milhares de acionistas, investidores e fornecedores ligados a essas empresas e levou à demissão de milhares de trabalhadores nos últimos três anos.



- Com a criminalização permanente da política, está ajudando a abrir espaço para o fascismo, levando pela primeira vez na história uma candidatura de extrema-direita a se tornar viável, senão favorita, para as próximas eleições presidenciais.



Quem aceita que Sarney, Renan e Jucá cometeram crime ao criticar a Operação Lava-Jato e até mesmo ao discutir sua eventual interrupção ou descontinuidade, reconhece, ingênua, hipócrita ou seletivamente, nela, algum ganho, quando não houve quase nenhum, quando comparado às perdas que acarretou para o país e para a sociedade brasileira.



Corruptos comprovados estão em sua maioria soltos, o país encontra-se inerme frente a seus concorrentes externos, levaremos uma geração para sair do buraco em que nos metemos - também graças às "reformas" e PECS do governo Temer - estrategicamente.



E corrobora indiretamente teses e desmandos moronianos, como o que acusou Dilma do mesmo crime de "obstrução de justiça", quando tentou nomear para a Casa Civil Luís Inácio da Silva e foi inconstitucionalmente grampeada junto com o ex-presidente, com imediato vazamento do conteúdo da conversa - quem não se lembra do aproveitamento do "tchau, querida" por seus adversários? - para certos meios de comunicação.





Ao confabular com Sérgio Machado pelo telefone, Sarney, Jucá e Calheiros estavam fazendo - como reconheceu, recolocando os pingos no is, a delegada Graziela Costa e Silva - política, como fazem, ou deveriam fazer, livremente, a qualquer momento, deputados e senadores - eleitos por milhares de votos - de qualquer partido.



E como não deveriam fazer procuradores e juízes que, além de se dedicar mais do que deveriam ou poderiam, a essa atividade, ilegalmente, dão entrevistas - como se fossem autoridades de primeiro escalão - para câmeras "aliadas" de televisão, ou fazem palestras eventualmente pagas por instituições "apoiadoras", para um público simpatizante ou manipulado, dentro e fora do Brasil.



Isso, quando não organizam eventos, sobre Segurança Pública e "Bandidolatria", com a presença do Procurador Geral do Estado e de juízes de tribunais superiores cariocas, como está fazendo o Ministério Público do Rio de Janeiro - em fato muitíssimo mais grave, politicamente - com a presença, como palestrante e um dos convidados de honra, do "líder" de um movimento neofascista como o MBL , o "senhor" Kim Kataguiri.



Mauro Santayana

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