Lemuel Guerra
Quando, em 1922, após vencer a Guerra Civil, contrariando todas as expectativas contrárias, os bolcheviques tiveram que retroceder para a Nova Política Econômica (NEP), que permitia a ampliação da economia de mercado e da propriedade privada, Lenin escreveu um breve, porém maravilhoso texto, intitulado "Sobre a subida de uma alta montanha". Ele usa a analogia de um escalador que tem que recuar ao pé da montanha para empreender uma nova tentativa de atingir o pico para descrever o que um retrocesso significa em um processo de construção da sociedade que queremos. Quando estamos retrocedendo:
"As vozes lá debaixo ressoam com uma alegria maliciosa. Não o ocultam; riem alegremente por entre os dentes e gritam “Daqui a pouco ele cairá! E é merecido, o lunático!”. Outros tentam dissimular seu rancoroso júbilo. Lamentam-se e levantam os olhares para os céus em luto, como se dissessem “nos entristece enormemente comprovar que nossos medos estavam justificados”! Mas nós, que passamos a vida elaborando um prudente plano para escalar a montanha, acaso não pedimos que a escalada fosse postergada até que nosso plano estivesse completo? E se protestamos tão veementemente contra a ideia de seguir esse caminho, que agora abandonamos (vejam, vejam, está regressando! Está descendo! Cada passo toma-lhe horas de preparação. E nós, é claro, fomos severamente insultados quando insistimos na moderação e cautela!), se censuramos tão ardentemente esse louco e avisamos a todos sobre o perigo de imitá-lo e ajudá-lo, o fizemos guiados unicamente por nossa devoção ao grande plano de escalar a montanha e para evitar que o grande plano sofresse de um descrédito generalizado".
Depois de enumerar os sucessos e fracassos do Estado soviético, Lenin ressalta a necessidade de francamente admitir os erros:
"Estão condenados aqueles comunistas que imaginam ser possível realizar um empreendimento histórico como assentar as bases da economia socialista, sem cometer erros, sem retrocessos, sem numerosas alterações àquilo que falta completar ou ao que foi malfeito. Os comunistas que não têm ilusões, que não se deixam vencer pelo desânimo e que conservam a força e a flexibilidade para “recomeçar do começo”, de novo, e ainda outra vez, encarando uma tarefa extremamente difícil, não estão condenados (e muito provavelmente não perecerão)".
Portanto, vamos começar do começo...., sempre e de novo!
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