Jean Wyllys
Sobre a Unidade das Esquerdas
Marcelo Freixo é meu companheiro de partido e meu amigo, como todos sabem, e eu respeito muito as opiniões dele. E nossa democracia fragilizada com o golpe parlamentar de 2016 ainda permite, felizmente, que todas e todos nós ainda possamos falar e expressar livremente nossos pensamentos e nossa opinião sobre a atual crise política. Hoje, ao ser questionado em entrevista para a Folha de São Paulo se é “esperto pulverizar a esquerda em várias candidaturas”, Freixo respondeu que não sabe “se esse é o momento de unificar todo mundo [da esquerda]”. Aos meus seguidores, amigos e eleitores que estão em dúvida e questionaram nas redes qual é a minha posição e o que eu defendo em relação ao papel da esquerda em 2018, eu aproveito para esclarecer mais uma vez aquilo que venho defendendo há tempos.
Acredito, sim, que devemos perseguir a construção de um bloco de diferentes representações políticas de esquerda e progressistas para derrotar o grupo que tomou de assalto a democracia por meio de um golpe. Essa camarilha de corruptos, fascistas, fundamentalistas e neoconservadores que usurpou o poder é composta de uma miríade de partidos de aluguel e também por um setor expressivo do alto empresariado, dos grandes proprietários de terra e até de lideranças religiosas que utilizam a fé para construir fortunas pessoais. Juntas, essas forças formam um adversário poderoso e muito bem financiado que, na minha visão, só poderá ser enfrentado com uma união das insatisfações difusas que se organizam contra essa agenda de retrocessos (tanto econômicos, sociais e trabalhistas quanto relacionados às liberdades individuais, à laicidade do Estado e aos direitos humanos); agenda que é a mais perversa possível, com o governo ilegítimo chegando ao cúmulo de acabar com leis trabalhistas, destruir a Previdência, privatizar o que ainda não foi privatizado, reduzir salários, congelar investimentos para a saúde e a educação, impor o macarthismo nas escolas, censurar museus e exposições de arte, proibir o aborto seguro até nos casos em que já era permitido, impedir qualquer avanço dos direitos LGBT, e, enquanto isso, encher malas e malas de dinheiro roubado de todos nós.
Esta união necessária das esquerdas, contudo, não deverá ter como pretensão a eliminação das diferenças no campo progressista — as divergências, que são saudáveis num ambiente democrático. Ela também não será possível sem que as velhas práticas que levaram ao afastamento de setores da sociedade sejam revistas e que novos temas ocupem espaço de protagonismo. Ela não pode ser uma roupagem nova para o velho, mas uma construção coletiva que resgate as melhores tradições da esquerda democrática, aprenda dos erros do passado e incorpore os novos desafios do presente, muitas vezes subestimados pela parte da esquerda que não chegou ao século XXI.
No balanço dos governos anteriores, obviamente, eu estou, por um lado, totalmente convencido de que este momento deve ser de superação da política de conciliação de classes e de transformação e abertura das esquerdas para as novas agendas, sobretudo para o desenvolvimento sustentável e o respeito aos direitos das minorias, mas isso não significa que eu despreze ou deixe de considerar as conquistas feitas pelo PT e pelo PC do B no governo, mesmo considerando que ambos tiveram que fazer conciliações com a direita para alcançar tais conquistas — o que impediu que outras conquistas fossem alcançadas — e mesmo considerando que alguns petistas se locupletaram e se envolveram em corrupção. Nesse momento, acredito que precisamos de todos e todas com unidade na ação, que é totalmente diferente de uma unidade eleitoreira. Essa unidade deve ser construída com base em acordos programáticos, independentemente de que haja uma, duas ou mais candidaturas, ou quais sejam, porque a disputa política não se reduz à eleição, e mesmo a eleição se faz em dois turnos.
Os esforços das esquerdas em 2018, para mim, portanto, devem ser pela união e pela concentração numa agenda comum que priorize a justiça social, a democracia, os direitos humanos, o respeito ao meio ambiente e às minorias sociais, étnicas e religiosas. Esta é a agenda principal que eu defendo. Uma agenda de esperança!
Revista Forum
Marcelo Freixo é meu companheiro de partido e meu amigo, como todos sabem, e eu respeito muito as opiniões dele. E nossa democracia fragilizada com o golpe parlamentar de 2016 ainda permite, felizmente, que todas e todos nós ainda possamos falar e expressar livremente nossos pensamentos e nossa opinião sobre a atual crise política. Hoje, ao ser questionado em entrevista para a Folha de São Paulo se é “esperto pulverizar a esquerda em várias candidaturas”, Freixo respondeu que não sabe “se esse é o momento de unificar todo mundo [da esquerda]”. Aos meus seguidores, amigos e eleitores que estão em dúvida e questionaram nas redes qual é a minha posição e o que eu defendo em relação ao papel da esquerda em 2018, eu aproveito para esclarecer mais uma vez aquilo que venho defendendo há tempos.
Acredito, sim, que devemos perseguir a construção de um bloco de diferentes representações políticas de esquerda e progressistas para derrotar o grupo que tomou de assalto a democracia por meio de um golpe. Essa camarilha de corruptos, fascistas, fundamentalistas e neoconservadores que usurpou o poder é composta de uma miríade de partidos de aluguel e também por um setor expressivo do alto empresariado, dos grandes proprietários de terra e até de lideranças religiosas que utilizam a fé para construir fortunas pessoais. Juntas, essas forças formam um adversário poderoso e muito bem financiado que, na minha visão, só poderá ser enfrentado com uma união das insatisfações difusas que se organizam contra essa agenda de retrocessos (tanto econômicos, sociais e trabalhistas quanto relacionados às liberdades individuais, à laicidade do Estado e aos direitos humanos); agenda que é a mais perversa possível, com o governo ilegítimo chegando ao cúmulo de acabar com leis trabalhistas, destruir a Previdência, privatizar o que ainda não foi privatizado, reduzir salários, congelar investimentos para a saúde e a educação, impor o macarthismo nas escolas, censurar museus e exposições de arte, proibir o aborto seguro até nos casos em que já era permitido, impedir qualquer avanço dos direitos LGBT, e, enquanto isso, encher malas e malas de dinheiro roubado de todos nós.
Esta união necessária das esquerdas, contudo, não deverá ter como pretensão a eliminação das diferenças no campo progressista — as divergências, que são saudáveis num ambiente democrático. Ela também não será possível sem que as velhas práticas que levaram ao afastamento de setores da sociedade sejam revistas e que novos temas ocupem espaço de protagonismo. Ela não pode ser uma roupagem nova para o velho, mas uma construção coletiva que resgate as melhores tradições da esquerda democrática, aprenda dos erros do passado e incorpore os novos desafios do presente, muitas vezes subestimados pela parte da esquerda que não chegou ao século XXI.
No balanço dos governos anteriores, obviamente, eu estou, por um lado, totalmente convencido de que este momento deve ser de superação da política de conciliação de classes e de transformação e abertura das esquerdas para as novas agendas, sobretudo para o desenvolvimento sustentável e o respeito aos direitos das minorias, mas isso não significa que eu despreze ou deixe de considerar as conquistas feitas pelo PT e pelo PC do B no governo, mesmo considerando que ambos tiveram que fazer conciliações com a direita para alcançar tais conquistas — o que impediu que outras conquistas fossem alcançadas — e mesmo considerando que alguns petistas se locupletaram e se envolveram em corrupção. Nesse momento, acredito que precisamos de todos e todas com unidade na ação, que é totalmente diferente de uma unidade eleitoreira. Essa unidade deve ser construída com base em acordos programáticos, independentemente de que haja uma, duas ou mais candidaturas, ou quais sejam, porque a disputa política não se reduz à eleição, e mesmo a eleição se faz em dois turnos.
Os esforços das esquerdas em 2018, para mim, portanto, devem ser pela união e pela concentração numa agenda comum que priorize a justiça social, a democracia, os direitos humanos, o respeito ao meio ambiente e às minorias sociais, étnicas e religiosas. Esta é a agenda principal que eu defendo. Uma agenda de esperança!
Revista Forum
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