À serviço dos financiadores |
Rene Carvalho
A galera medonha, como tudo começou.
Num país grande como o Brasil é normal que a diversidade regional e local solicite dos deputados a defesa desses interesses diferenciados.
Uma das formas de atendimento são as chamadas emendas dos parlamentares. Estas para muitos deputados são questão de vida e morte para sua reeleição.
Consideram que esse – e apenas esse – é o mandato determinado por seus eleitores. Quando vão à tribuna da Câmara apoiar o impeachment tudo o que têm a dizer é por em evidência esse “mandato”. Já a família, não tenho ideia – me parece pura hipocrisia...
Esse é um importante mecanismo de despolitização da política. Questões locais, como hospitais e estradas, deveriam ter seu espaço de discussão e realização na esfera regional. É onde melhor se pode discutir méritos e prioridades. Na “institucionalidade” atual, entretanto, a liberação dessas emendas torna-se um determinante do voto do parlamentar. Variante clássica do fisiologismo.
Não se trata de negar a importância das reivindicações locais. Para essas populações significa muitas vezes a diferença entre vida e morte. Mas o que pode transformar esse conjunto de localismos em propostas nacionais deveria ser o partido político ao qual o candidato está filiado. São as bandeiras desse partido político que fazem a ligação entre o local – obrigatoriamente diverso - e o nacional.
Como raros partidos desempenham no país esse papel, a defesa das questões locais permite ao deputado eleito amplo espaço para posicionamentos políticos para os quais não tem mandato. O que permite até vender seu voto, trocar de partido como quem troca de camisa, dizer e desdizer-se. A maioria dos parlamentares não representa, em sua ação política a opinião da maioria dos eleitores que nele votaram.
Ao mesmo tempo, apenas 36 deputados eleitos o foram apenas com os votos nele depositados pelos eleitores. Ou seja, mais de 90% dos deputados foram eleitos com votos quem não o escolheu para representar sua visão do país. Vc vota em alho e ajuda, sem o saber, a eleger bugalho. Para isso fazem-se grandes coligações que amealham - junto com os puxadores de legenda - votos que ajudarão a eleger grandes desconhecidos.
Se acrescentarmos essas questões à importância decisiva do financiamento empresarial, à proliferação de partidos que muitas vezes têm como finalidade vender seu espaço no horário eleitoral gratuito, ao fato de que nesta legislação 1/3 dos deputados trocou de partido, à livre compra de votos para emendas que favorecem financiadores e os famosos jabutis sorrateiramente introduzidos em leis votadas é fácil ver que nosso sistema político e eleitoral tem um papel determinante para que o voto popular seja desviado, tenha pouca representação na Câmara.
Em princípio ao menos, a legitimidade da Câmara é fundada pelo voto popular. Visto objetivamente, nosso sistema político e eleitoral no que se refere a estimular a representatividade popular dos mandatos é como orientar o eleitor a votar com uma venda nos olhos: a maioria dos eleitores não tem ideia dos caminhos que seu voto tomará. Se alguma dúvida ainda houver sobre a centralidade da reforma política, basta ver que o partido que mais tem deputados na Câmara é o Partido do Cunha...
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