quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Nossa balança já não paga as remessas de lucros


Remetemos US$ 5 bi em 2002 e US$ 33,8 bi em 2008

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Só para refrescar a memória nessa questão de remessas para fora do país: no ano passado remetemos para o exterior US$ 33,8 bilhões em lucros e dividendos - dados do próprio Banco Central (BC) - independente da dívida interna e seu serviço. Estes já nos custaram R$ 162 bilhões em 2008, graças às taxas de juros altas mantidas pelo Banco Central (BC), sem nenhuma necessidade real.

Para se ter uma idéia do crescimento registrado nas remessas no ano passado, em 1993 tínhamos enviado US$ 2 bilhões e, em 2002, US$ 5 bilhões. Além desse montante (US$ 33,8 bilhões), no ano passado ainda enviamos US$ 7,4 bilhões referentes a juros dos empréstimos; mais US$ 2,1 bilhões para pagamento de royalties e serviços; US$ 2,6 bilhões para pagamento de serviço de computação e informação; US$ 7,8 bilhões referentes a aluguel de equipamentos; e, por fim, US$ 10 bilhões de turismo e fretes.
No total enviamos US$ 57,2 bilhões para o exterior, bem mais que o dobro de nosso saldo na balança comercial, de US$ 24,7 bilhões. Como podemos constatar, não são os serviços que pesam mais (US$ 16,7 bilhões), mas as rendas (US$ 40,5 bilhões).
Ou seja, pagamos esse total em juros, dividendos e lucros. Só de lucros das empresas estrangeiras (notas acima e abaixo) ou de participação em empresas nacionais, pagamos US$ 26,8 bilhões; de lucro dos investimentos externos em carteiras, rendimentos de compra e venda de ações de empresas, outros US$ 8,5 bilhões; e de juros dos empréstimos externos, US$ 7,4 bilhões.

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Como você vê pela exposição que faço (leia notas acima) nossa balança comercial e seu saldo já não bastam para pagar sequer as remessas de lucros. Precisariam ser 131% maiores para toda a conta de rendas e de serviços.
Nos últimos anos, as remessas de lucros das empresas estrangeiras dispararam e as aplicações especulativas na Bolsa de Valores idem, até culminar na crise de 2008 com a saída de US$ 225 bilhões do país (dos US$ 220 bilhões que haviam sido aplicados em 2008), mostrando, assim, os riscos aos quais o Brasil está submetido.

Essa extraordinária e arriscada dependência do Brasil só tende a se agravar se não houver uma mudança radical na política de juros e na relativa à abertura financeira do país, totalmente liberada, até dando seqüência a uma tendência do governo FHC.

Sem exigências de permanência no país e sem tributação, os capitais aplicados na bolsa jamais chegam ao setor produtivo. Na prática, ganham dezenas de bilhões de dólares, às vezes, centenas, e depois saem do país concretizando os lucros. É evidente que não se resolve essa questão apenas com o controle de capitais ou seu direcionamento para o setor produtivo, mas é um bom começo.

Blog Zé Dirceu

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