Um ano interessante
para o cinema nacional, com bons filmes mas absoluta prevalência de um deles –
Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. Não apenas pela qualidade, temática
(resistência contra o capitalismo selvagem) e repercussão internacional.
Aquarius correu mundo também pelo protesto da equipe contra o impeachment de
Dilma nas escadarias de Cannes. Está indo muito bem no circuito internacional
de premiações, embora tenha ficado fora do Globo de Ouro. Mas outros excelentes
filmes também despontaram como Boi Neon, de Gabriel Mascaro, com sua visão de
um nordeste fora dos clichês, e Sinfonia da Necrópole, de Mariana Rojas, uma
comédia musical debochada, crítica e fora dos padrões.
1) Aquarius
A história
de Clara (Sonia Braga) ficou famosa. Ela mora num apartamento de grande valor
afetivo e resiste à pressão de uma incorporadora que quer demolir o imóvel e
construir um espigão no terreno. Símbolo da resistência, Clara tornou-se
personagem central da crise brasileira. O filme entrou no imaginário nacional e
foi discutido por pessoas das mais variadas tendências.
2) Boi Neon
Gabriel
Mascaro constrói uma aventura erótica e existencial pelo mundo dos rodeios no
Nordeste, fazendo o percurso na contramão dos clichês associados à região. Uma
linda mulher é motorista de caminhão; um vaqueiro tem paixão pela costura.
Filme muito original.
3) Cinema
Novo
Eryk Rocha
é filho de Glauber Rocha, mas procura fazer um documentário nada saudosista
sobre o mais importante movimento cinematográfico do Brasil. A imersão nos
filmes da época é profunda, mas Eryk mostra que o Cinema Novo não é datado e
que as questões que levantava permanecem muito atuais.
4) Sinfonia
da Necrópole
Um musical
ambientado num cemitério? Quem apostaria numa ideia destas? E, no entanto, ela
dá supercerto, sob a batuta da talentosa Juliana Rojas que, de quebra, consegue
inserir uma crítica à especulação urbana em sua trama fantasmagórica.
5) Para
Minha Amada Morta
Um jovem
viúvo (Fernando Alves Pinto) descobre, através de fitas de vídeo, que sua
esposa o traía. Como tem contatos com a polícia, prepara uma vingança, mas esta
desafia os clichês do gênero.
6) BR 716
Domingos
Oliveira, em pegada memorialística, recorda de sua primeira juventude, vivida
num famoso apartamento de Copacabana, em regime de festa permanente. Do lado de
fora, um golpe de Estado é preparado. O clima dos anos 1960 é recriado à
perfeição, com Caio Blat como alter ego do diretor.
7) Mate-me
Por Favor
Anita
Silveira da Rocha recria o clima de terror entre adolescentes da Barra da
Tijuca quando crimes começam a acontecer. Aposta mais na atmosfera de medo que
em cenas explícitas de violência.
8) Mãe só
há Uma
Anna
Muylaert recria, em forma ficcional, o caso verídico de um bebê sequestrado na
maternidade e que conhece os pais biológicos apenas quando já é adolescente.
Além do caso em si, Anna discute várias questões contemporâneas, como a
homofobia.
9) Big Jato
Claudio
Assis adapta o romance de formação do escritor Xico Sá, seu relacionamento
problemático com o pai e a admiração pelo tio sonhador (Matheus Nachtergaele
faz os dois papéis).
10) Campo
Grande
Um notável
exercício de cinema de Sandra Kogut com a história de uma mulher solitária
(Carla Ribas) que se vê de súbito obrigada a tomar conta de duas crianças. Ação
e sentimento nas doses certas.
Estadão
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