quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Zanin: Meus melhores filmes nacionais de 2016

Luiz Fernando Zanin Oricchio

Um ano interessante para o cinema nacional, com bons filmes mas absoluta prevalência de um deles – Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. Não apenas pela qualidade, temática (resistência contra o capitalismo selvagem) e repercussão internacional. 


Aquarius correu mundo também pelo protesto da equipe contra o impeachment de Dilma nas escadarias de Cannes. Está indo muito bem no circuito internacional de premiações, embora tenha ficado fora do Globo de Ouro. Mas outros excelentes filmes também despontaram como Boi Neon, de Gabriel Mascaro, com sua visão de um nordeste fora dos clichês, e Sinfonia da Necrópole, de Mariana Rojas, uma comédia musical debochada, crítica e fora dos padrões.
  
1) Aquarius
A história de Clara (Sonia Braga) ficou famosa. Ela mora num apartamento de grande valor afetivo e resiste à pressão de uma incorporadora que quer demolir o imóvel e construir um espigão no terreno. Símbolo da resistência, Clara tornou-se personagem central da crise brasileira. O filme entrou no imaginário nacional e foi discutido por pessoas das mais variadas tendências.

2) Boi Neon
Gabriel Mascaro constrói uma aventura erótica e existencial pelo mundo dos rodeios no Nordeste, fazendo o percurso na contramão dos clichês associados à região. Uma linda mulher é motorista de caminhão; um vaqueiro tem paixão pela costura. Filme muito original.

3) Cinema Novo
Eryk Rocha é filho de Glauber Rocha, mas procura fazer um documentário nada saudosista sobre o mais importante movimento cinematográfico do Brasil. A imersão nos filmes da época é profunda, mas Eryk mostra que o Cinema Novo não é datado e que as questões que levantava permanecem muito atuais.

4) Sinfonia da Necrópole
Um musical ambientado num cemitério? Quem apostaria numa ideia destas? E, no entanto, ela dá supercerto, sob a batuta da talentosa Juliana Rojas que, de quebra, consegue inserir uma crítica à especulação urbana em sua trama fantasmagórica.

5) Para Minha Amada Morta
Um jovem viúvo (Fernando Alves Pinto) descobre, através de fitas de vídeo, que sua esposa o traía. Como tem contatos com a polícia, prepara uma vingança, mas esta desafia os clichês do gênero.

6) BR 716
Domingos Oliveira, em pegada memorialística, recorda de sua primeira juventude, vivida num famoso apartamento de Copacabana, em regime de festa permanente. Do lado de fora, um golpe de Estado é preparado. O clima dos anos 1960 é recriado à perfeição, com Caio Blat como alter ego do diretor.

7) Mate-me Por Favor
Anita Silveira da Rocha recria o clima de terror entre adolescentes da Barra da Tijuca quando crimes começam a acontecer. Aposta mais na atmosfera de medo que em cenas explícitas de violência.

8) Mãe só há Uma
Anna Muylaert recria, em forma ficcional, o caso verídico de um bebê sequestrado na maternidade e que conhece os pais biológicos apenas quando já é adolescente. Além do caso em si, Anna discute várias questões contemporâneas, como a homofobia. 

9) Big Jato
Claudio Assis adapta o romance de formação do escritor Xico Sá, seu relacionamento problemático com o pai e a admiração pelo tio sonhador (Matheus Nachtergaele faz os dois papéis).

10) Campo Grande
Um notável exercício de cinema de Sandra Kogut com a história de uma mulher solitária (Carla Ribas) que se vê de súbito obrigada a tomar conta de duas crianças. Ação e sentimento nas doses certas.


Estadão


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