terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O que Stephanes quer no mundo civilizado é crime



Grave não é a bancada do agronegócio baixar o sarrafo na Anvisa e apertar o torniquete pela liberação dos agrotóxicos. Afinal, de personagens capazes de pagar Sempre-Livre para a filha, rodada de cachaça em birosca e viagem de jatinho para as amantes com dinheiro do eleitor pode-se esperar qualquer coisa. Deputados que valham o ar que respiram contam-se nos dedos. Terrível é descobrir que o governo juntou-se a essa quadrilha na tarefa de engordar o bolso de fabricantes de adubo e produtores rurais. Pouco importa que o preço seja a saúde do brasileiro.

Por isso o ministro Reinhold Stephanes agasalhou em sua sala de trabalho uma reunião destinada a passar os representantes da Anvisa na máquina de moer carne. Ele sabe que a agricultura orgânica é melhor”, mas defende o crime com a cara mais limpa do mundo. Não vamos produzir mais, nem alimentar mais gente sem os agrotóxicos, justifica. Claro que o ministro não emprega o substantivo agrotóxicos.

Prefere “esses produtos”.

Assim, soa cínico quando, depois de toda a pressão, Stephanes admite com candura: lógico, se algum desses produtos fizer comprovadamente mal à saúde, deve ser retirado do mercado. Certamente trata-se de obra de uma tropa de idiotas a decisão que baniu das lavouras da China, da União Européia e até do Paraguai a maioria dos venenos que o ministro defende. Alguém tem dúvidas sobre a necessidade da China de aumentar a produção de alimentos?

Será que Índia, Nigéria, Senegal, Cabo Verde e Burkina Faso tiraram o Endossulfan do mercado por que lá sobra verduras ou por que descobriram estreita relação entre o agrotóxico e doenças degenerativas de pâncreas, ovários e testículos? São mais de dez os agrotóxicos cuja venda foi proibida no mundo. A maioria por comprovado aumento na incidência de câncer em quem manipula ou consome.

Nada disso, no entanto, impressiona Stephanes. O ministro quer testes locais. E certamente não os quer realizados apenas pelas autoridades de saúde, que podem estar a salvo de influência privada. Se forem iniciados agora, com o cadastramento de grupos de observação, os resultados não chegarão antes de cinco anos. Mais dois anos para a comprovação, depois da contestação dos primeiros números. Pode nos restar o consolo de que, até lá, o Todopoderoso talvez nos livre de conviver com metade desses criminosos.

Xico vargas

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